[1] Al Baqarah: a vaca. A Sura da Vaca, a mais longa do Alcorão e também com seu mais extenso versículo (282), denomina-se, assim, pela menção, nos versículos 67-73, da imolação de uma vaca para expurgo de culpa, dentro da comunidade judaica, por época de Moisés. A sura inicia-se pela afirmação categórica de que o Alcorão é guia espiritual e moral dos que crêem em Deus, e pela confirmação de que a verdadeira fé deve integrar a crença na unicidade absoluta de Deus, a prática constante do bem e a crença na Ressurreição. Enumera as três categorias dos homens: crentes, idólatras e hipócritas e como reagem diante da Mensagem divina. Relata episódios relacionados aos filhos de Israel, fazendo-os atentar, constantemente, para as graças de Deus para com eles. Alude, ainda, ao Patriarca Abraão, com cujo filho, Ismael, construiu a Ka bah. E reiterativa na afirmação de que Deus é Único e torna patente Seus sinais como meio de repelir, peremptoriamente, a idolatria vigente, e amplamente disseminada na Península Arábica, tempos antes do advento do Islão. Encerra, nos constantes ensinamentos e preceitos, a base da boa conduta do moslim: estabelece a distinção entre o lícito e o ilícito; discorre sobre a virtude e ensina os critérios para o jejum e a peregrinação; legisla sobre as obrigações testamentais, o talião, o casamento e o divórcio; orienta sobre o aleitamento materno, sobre o registro de dívidas; exalta a caridade e abomina a usura. Ensina ao crente o lídimo caminho para a felicidade eterna e a pedir perdão pelas falhas, implorando a misericórdia e o socorro de Deus. (2) Al Madinah: Medina, a Segunda cidade sagrada, no Mundo Islâmico, depois de Makkah, na qual se encontra a Mesquita do Profeta, onde Muhammad foi sepultado. Foi nessa cidade que se revelou esta sura. (3)Alif, Lām, Mīm: São três letras do alfabeto árabe, equivalentes, em português, às letras A, L, M. Vinte e nove são as suras do Alcorão que, como esta, se iniciam por letras, mas de modo variado. Há as iniciadas por uma só letra (L, LXVIII), por duas (XLIII), por quatro (VII), e até por cinco letras (XIX).E, por serem inúmeras as interpretações, apresentadas pela exegese alcorânica, na tentativa de elucidar- lhes o significado, salientamos, a seguir, apenas as mais plausíveis destas interpretações: as letras isoladas seriam caracteres místicos, cuja significação e valor permanecem desconhecidos, e que Deus revelou somente a Muhammad; ou seriam as letras iniciais de atributos divinos, já que, entre osnumerosos atributos, não seria difícil selecionar alguns deles, que se iniciassem por estas letras; finalmente, seriam advertência para que os homens jamais olvidassem a onipotência de Deus em contraste com a impotência deles, quer dizer, não olvidassem que, assim como Deus de terra criou o homem, também de simples letras formou as palavras do Livro inimitável, que o homem árabe, apesar de sua proverbial eloqüência, jamais pôde reproduzir. Letras formou as palavras do Livro inimitável, que o homem árabe, apesar de sua proverbial eloqüência, jamais pôde reproduzir.
Que crêem no Invisível[1] e cumprem a oração e despendem, do que lhes damos por sustento
[1] De maneira geral, a crença no Invisível é o que distingue o ser racional do irracional. O homem percebe que o Universo está muito além do que seus sentidos podem perceber. Aceitar a evidência cósmica, sem entendê-la, totalmente, mas, também, sem negá-la, é privilégio do homem, em cuja vida a preocupação escatológica e a percepção do Invisível ocupam papéis primordiais.
E que crêem no[1] que foi descido do céu, para ti[2] e no[3] que fora descido antes de ti, e se convencem da Derradeira Vida
[1] No: no Alcorão. [2] Para ti para o profeta Muhammad. [3] No: naquilo, ou seja, nos Livros divinos, revelados antes de Muhammad; a Tora e o Evangelho.
Procuram enganar a Allah e aos que crêem, mas não enganam senão a si mesmos e não percebem[1].
[1] Referência ao procedimento ambíguo dos hipócritas que, por um lado, abraçaram o Islão, garantindo, com isso, seu status na sociedade; e por outro, ainda ostentavam a descrença, mantendo-se, assim, aliados aos inimigos da nova religião, o Islamismo.
Em seus corações, há enfermidade[1]; então, Allah acrescentou-lhes enfermidade. E terão doloroso castigo, porque mentiam
[1] Por enfermidade, entenda-se a inveja, que os hipócritas, de fé dúbia e vacilante, nutriam em relação aos crentes; essa inveja redundou em ódio atroz, quando a revelação da Verdade, no Alcorão, trouxe constantes denúncias dos hipócritas.
E, quando se lhes diz: "Crede como crêem as dignas pessoas", dizem: "Creremos como crêem os insensatos?" Ora, por certo, são eles mesmos os insensatos, mas não sabem
E, quando deparam com os que crêem, dizem: "Cremos" e, quando estão a sós com seus demônios[1] dizem: "Por certo, estamos convosco; somos, apenas, zombadores
[1] Demônios, aqui, traduz a palavra árabe Chayāṭīn, forma plural de Chayṭān, que significa qualquer rebelde malfeitor, ser humano ou nào. No versículo, refere-se a todos os que são hostis à missão de Muhammad.
Seu exemplo[1] é como o daqueles que acenderam um fogo e, quando este iluminou o que havia ao seu redor, Allah foi-Se-lhes com a luz e deixou-os nas trevas, onde não enxergam
[1] Alusão aos hipócritas, que escolheram a descrença, mesmo após haver conhecido a Verdade, mas que, ainda, buscavam uma luz para orientá-los no caminho reto. Ao advir-lhes a esperada luz, por meio do Alcorão voltaram-lhe as costas e, conseqüentemente, dela foram desprovidos, permanecendo na escuridão.
Ou como o daqueles que, sob intensa chuva do céu, em que há trevas e trovões e relâmpagos, tapam com os dedos os ouvidos, contra os raios ruidosos, para se precatarem da morte. - E Allah está sempre, abarcando[1] os renegadores da Fé
[1] Ou seja, Deus tem poder de assediar os incrédulos.
O relâmpago quase lhes arrebata as vistas. Cada vez que lhes ilumina o caminho, nele andam e, quando lhos entenebrece, detêm-se. E se Allah quisesse, ir-Se-lhes-ia com o ouvido e as vistas[1]. Por certo, Allah, sobre todas as cousas, é Onipotente
[1] Este versículo reforça a alegoria do Alcorão, que é luz e ilumina o caminho para os que renegam a Fé, tal qual um relâmpago fulgurante. Os hipócritas parecem admitir essa luz, mas recuam, com desdém, e, novamente, as trevas encobrem-nos. Privam-se, deliberadamente, da graça que Deus lhes confere, pois tapam os ouvidos e evitam a luz. Seus artifícios de recusa são tolos perante Deus.
É Ele Quem vos fez da terra leito e do céu, teto edificado; e fez descer do céu água com que fez sair, dos frutos, sustento para vós. Então, não façais semelhantes a Allah, enquanto sabeis
E se estais em dúvida acerca do que fizemos descer sobre Nosso servo, fazei vir uma sura[1] igual à dele, e convocai vossas testemunhas, em vez de Allah, se sois verídicos
[1] Fazei vir uma sura: reproduzir um capítulo do Livro. Os renegadores do Islão colocavam em dúvida a veracidade da Mensagem de Muhammad, servo de Deus. Para dirimir as dúvidas, foi-lhes dirigido o seguinte desafio, encontrado em certos passos do Alcorão (X 38, 39;XI 13, 14; LII 33, 34 e XVII 88): se não acreditavam na origem divina do Livro, deveriam ou reproduzi-lo integralmente, ou fazer dez capítulos semelhantes, ou, pelo menos, um deles, o que nem mesmo os árabes, de grande eloqüência, o lograram. Isto veio selar essa questão e provar, em definitivo, a origem do Livro, como revelação de Deus ao homem.
E se não o fizerdes - e não o fareis - guardai-vos do Fogo, cujo combustível são os homens e as pedras[1]. O qual é preparado para os renegadores da Fé
[1] Ou seja, os ídolos de pedra das falsas divindades, que, com os renegadores do Islão, serão lançados no Inferno, para provar-lhes que nem mesmo as pedras serão indenes ao voraz fogo infernal.
E alvissara, Muhammad, aos que crêem e fazem as boas obras que terão Jardins, abaixo dos quais correm os rios. Cada vez que forem sustentados por algo de seus frutos, dirão: "Eis o fruto pelo qual fomos sustentados antes". Enquanto o que lhes for concedido será, apenas, semelhante. E neles, terão esposas puras e neles serão eternos
Por certo, Allah não se peja de propor um exemplo qualquer, seja de um mosquito ou de algo superior a este[1]. Então, quanto aos que crêem, eles sabem que ele é a verdade de seu Senhor. E quanto aos que renegam a Fé dizem: "Que deseja Allah com este exemplo?" Com ele, Allah descaminha a muitos e com ele guia a muitos. E não descaminha com ele, senão os perversos.
[1] Os antagonistas do Islão, que lançaram mão de toda a sorte de controvérsias para detrair o Alcorão, criticaram, inclusive, os exemplos nele contidos, referentes a insetos, tais como a aranha (XXIX 41) e a mosca (XXII 73), alegando que, caso se tratasse de obra divina, jamais encerraria tais exemplos, já que Deus nào se ocupa de seres insignificantes, por ser-lhes infinitamente Superior.
Como podeis renegar a Allah, enquanto Ele vos deu a vida quando estáveis mortos[1]? Em seguida, far-vos-á morrer; em seguida, dar-vos-á a vida; e finalmente, a Ele sereis retornados.
E quando teu Senhor disse aos anjos: "Por certo, farei na terra um califa[1]", disseram: "Farás, nela, quem nela semeará a corrupção e derramará o sangue, enquanto nós Te glorificamos, com louvor, e Te sagramos?" Ele disse: "Por certo, sei o que não sabeis."
[1] Etimologicamente, a palavra calīfa significa sucessor, o que substitui a outrem; designou, posteriormente, o soberano moslim, No texto, calīfa refere-se a Adão. 2. Os anjos, conhecedores só do bem e entoadores eternos do louvor de Deus, acreditavamse, por isso, superiores ao ser humano, ignorando, entretanto, que este, criado com a mes clados caracteres dos jinns (seres invisíveis benfazejos ou malfazejos, que, segundo o Alcorão, foram criados do fogo) e dos anjos e, assim, receptáculo do mal e do bem, poderia ser-lhes superior, se, por meio do livre arbítrio, propendesse para o bem,
E Ele ensinou a Adão[1] todos os nomes dos seres; em seguida, expô-los aos anjos e disse: "Informai-Me dos nomes desses se sois verídicos"
[1] Somente ao homem foi conferida a faculdade de expressão oral; por isso. Deus ensinoulhe os nomes de todos os seres, com os quais pôde designá-los. Daí. o homem passou a ter a chave do conhecimento e tornou-se a criatura superior, por excelência, acima de todas as criaturas de Deus, inclusive dos anjos.
Ele disse: "Ó Adão! Informa-os de seus nomes." E, quando este os informou de seus nomes, Ele disse: "Não vos disse que, por certo, sei do Invisível dos céus e da terra e sei o que mostrais e o[1] que ocultáveis?"
[1] O: aquilo que os anjos pensaram no momento em que Deus criou Adão, ou seja, que Deus jamais criaria um ser mais privilegiado e sábio que eles.
E quando dissemos aos anjos: "Prosternai-vos diante de Adão" então, eles prosternaram-se, exceto Iblis[1]. Ele recusou fazê-lo, e se ensoberbeceu e foi dos infiéis.
[1] Iblīs ou Eblīs: Nome dado ao jinn que desobedeceu a Deus. Também, denominado Chayṭān, Satã.
E dissemos: "Ó Adão! Habita tu e tua mulher o Paraíso e dele comei fartamente, onde quiserdes, e não vos aproximeis desta árvore[1] pois seríeis dos injustos."
[1] A árvore proibida: o meio de experimentar a perseverança do homem. O Alcorão alude à ela muito laconicamente, sem especificar-lhe a espécie ou a localização, e vão será que indaguemos mais à respeito dela, já que todos estes assuntos pertencem ao mundo invisí- vel, inacessível ao homem.
E Satã fê-los incorrer em erro por causa dela[1] e fê-los sair de onde estavam. E dissemos: "Descei[2], sendo inimigos uns dos outros. E tereis na terra residência e gozo, até certo tempo."
[1] Dela: da árvore. [2] Descei, sendo inimigos uns dos outros: esta frase pode ser interpretada de duas maneiras: ou Satã e seus sequazes seriam inimigos dos homens, e estes daqueles, ou os homens seriam inimigos uns dos outros, por causa das injustiças que fizerem mutuamente ao próximo.
Então, Adão recebeu palavras de seu Senhor, e Ele Se voltou para ele, remindo-o[1]. Por certo, Ele é O Remissório, O Misericordiador.
[1] Este versículo explicita que Adão foi perdoado. Com isso, o Islão demonstra que não reconhece o pecado original, pois vê o pecado como ato individual, exclusivo de quem age incorretamente. O pecado e o arrependimento nâo podem ser impostos: surgem de dentro do indivíduo. E ninguém deve arcar com os erros dos outros nem arrepender-se pelo que o outro fez de mau
Ó filhos de Israel![1] Lembrai-vos de Minha graça[2], com que vos agraciei, e sede fiéis a Meu pacto, Eu serei Fiel a vosso pacto. E a Mim, então, venerai-Me.
[1] Ó filhos de Israel: Israel é o nome dado, por Deus, a Jacó, filho de Isaque e neto de Abraão. Todos os descendentes de Jacó são assim chamados de filhos de Israel e, constantemente, o Alcorão os convida a discutirem, conjuntamente, não só as questões levantadas sobre a Mensagem de Muhammad, mas, também, as dúvidas dela surgidas. E invoca-os a se lembrarem das graças que Deus, sempre, dirigiu aos descendentes de Jacó, e do destino que tiveram os antepassados, quando se desviaram do caminho reto. [2] Minha graça: os benefícios, concedidos por Deus aos filhos de Israel, tais como: a liberdade do jugo faraônico, a travessia do mar, a proteção assombreada das nuvens contra o calor do deserto, o envio do maná e das codornizes.
E crede no[1] que fiz descer, confirmando o[2] que está convosco; e não sejais os primeiros renegadores dele. E não vendais Meus sinais por ínfimo preço. E a Mim, então, temei-Me.
[1] No: no Alcorão, o Livro divino, revelado ao Profeta Muhammad, em inicios do século VII d.C. É a base da religião islâmica, que chegou para amparar a humanidade em seu caminho terreno e unificar a velha aliança (o Judaísmo) com a nova aliança (o Cristianismo), assim como ampliar o ato de caridade e estabelecer a fraternidade universal, ligando todos os homens a uma só religião, semdiscriminação de raça, cor, nacionalidade ou posição social. [2] O: a Tora, ou a lei mosaica do Pentateuco, que prega, igualmente, a unicidade de Deus e a aplicação das leis de Deus aos homens.
E cumpri a oração e concedei a-zakāh[1], e curvai-vos[2] com os que se curvam.
[1] Az-zakāh: parte dos bens concedida em caridade. O Alcorão incita os filhos de Israel à prática da caridade, não só para consolidar a fraternidade social, mas para dirimir o ódio que as diferenças sociais provocam no pobre em relação ao rico, fazendo com que este se sinta, parcialmente, responsável pelos desafortunados, pois a riqueza é dádiva de Deus e, por conseqüência, deve ser compartilhada. Dessa forma, cada moslim deve conceder azzakāh correspondente a 2,5% ou 1/40 avos do que possui, que excedam os limites de suas necessidades e estejam disponíveis, durante um ano. O governo recolherá esta quantia para distribui-la às oito categorias de necessitados, de acordo com o Alcorão (IX 60). [2] Ou seja, "orai". Como a prece é constituída de dois movimentos, do curvar-se e do prosternar-se, o versículo, referindo-se ao primeiro deles, já alude, metonimicamente, à prece global.
E guardai-vos de um dia em que uma alma nada poderá quitar por outra alma, e não se lhe aceitará intercessão nem se lhe tomará resgate; e eles[1] não serão socorridos.
E lembrai-vos de quando vos salvamos do povo de Faraó, enquanto eles vos infligiam o pior castigo: degolavam vossos filhos e deixavam vivas vossas mulheres. E nisso, houve de vosso Senhor formidável prova.
E lembrai-vos de quando fizemos promessa a Moisés durante quarenta noites; em seguida, depois dele[1] tomastes o bezerro por divindade, e fostes injustos.
[1] Ou seja, depois de ele, Moisés, partir para o Monte Sinai.
E lembrai-vos de quando concedemos a Moisés o Livro e Al Furqān[1] para vos guiardes.
[1] Al Furqān: infinitivo substantivado de faraqa, que significa separar ou distinguir. Essa forma infinitiva assume, no Alcorão, de acordo com o contexto, três sentidos diferentes: o critério de distinguir o bem do mal, a vitória e o Livro revelado. Aqui, alude-se ao primeiro deles
E lembrai-vos de quando Moisés disse a seu povo: "Ó meu povo! Por certo, fostes injustos com vós mesmos tomando o bezerro por divindade. Então, voltai-vos arrependidos para vosso Criador, e matai-vos[1]. Isso vos é melhor, junto de vosso Criador." Então, Ele voltou-Se para vós, remindo-vos. Por certo, Ele é O Remissório, O Misericordiador.
[1] Segundo alguns exegetas, ou se trata do suicídio, como prova de obediência, para purificação pessoal, ou do homicídio contra o adorador do bezerro. Para a segunda interpretação, vide Êxodo XXXII 27.
E lembrai-vos de quando dissestes: "Ó Moisés! Não creremos em ti, até que vejamos Allah, declaradamente." Então, o raio apanhou-vos, enquanto olháveis.
E fizemos sombrear-vos as nuvens, e fizemos descer sobre vós o maná[1] e as codornizes, e dissemos: "Comei das cousas benignas que vos damos por sustento." E eles não foram injustos coNosco, mas foram injustos com si mesmos.
[1] Maná: substância doce e viscosa como o mel, que exsuda das árvores, no alvorecer. Sobre a descrição bíblica, vide Êxodo XVI 14 e 31.
E lembrai-vos de quando dissemos: "Entrai nesta cidade[1] e dela comei, fartamente, onde quiserdes; e entrai pela porta, prosternando-vos, e dizei: 'Perdão!', Nós vos perdoaremos os erros. E acrescentaremos graças aos benfeitores."
[1] A identificação dessa cidade não é claramente determinada. Alguns exegetas dizem tratarse da cidade de Jerusalém ou Jericó. A Bíblia fala de Canaã, onde Moisés ordenou que os filhos de Israel entrassem para o reconhecimento dela e de seu povo, se era forte ou fraco; e viram eles que, nessa terra que, habitava o poderoso povo, de grande estatura, e recearam-na. Vide Números XIII 28, 31-33.
Mas, os injustos trocaram, por outro dizer, o que lhes havia sido dito; então, fizemos descer sobre os injustos um tormento do céu, pela perversidade que cometiam.
E lembrai-vos de quando Moisés pediu água para seu povo, e dissemos: "Bate na pedra com tua vara." - Então, dela emanaram doze olhos d'água. Com efeito, cada tribo soube de onde beber. - "Comei e bebei do sustento de Allah e não semeeis a maldade na terra, sendo corruptores".
E lembrai-vos de quando dissestes: "Ó Moisés! Não suportaremos um só alimento; então, suplica por nós a teu Senhor nos faça sair algo do que a terra brota: de seus legumes e de seu pepino e de seu alho e de sua lentilha e de sua cebola. "Ele disse: "Trocareis o que é melhor pelo que é pior? Descei a uma metrópole[1] e, por certo, tereis o que pedis!" E a vileza e a humilhação estenderam-se sobre eles, e incorreram em ira de Allah. Isso, porque renegavam os sinais de Allah e matavam, sem razão, os profetas[2]. Isso, porque desobedeceram e cometiam agressão.
[1] Metrópole, aqui, é tradução da palavra árabe miṣr, que, como nome indefinido,significa grande cidade ou metrópole e cuja declinação, no versículo, denota tratar-se de um nome comum. Esta interpretação é mais lógica que a que liga esta palavra ao topónimo miṣr, nome próprio do Egito. [2] Alusão a Zacarias, João Batista e a outros profetas mortos injustamente. Vide II Crônicas XXIV 20-21, Jeremias XVIII 20-23.
Por certo, os crentes[1] e os que praticam o judaísmo e os cristãos e os sabeus, qualquer dentre eles que creu em Allah e no Derradeiro Dia e fez o bem terá seu prêmio junto de seu Senhor; e nada haverá que temer por eles, e eles não se entristecerão.
[1] Ou seja, os moslimes. Os sabeus: ṣābi'īn, plural de ṣābi', o que deixa uma religião por outra. Trata-se de um grupo de idólatras árabes, muito anteriores ao islão, os quais, não aceitando mais o politeísmo de seus antepassados, buscaram outra crença que lhes fosse mais adequada, até chegarem a certa concepção monoteísta da religião abraâmica. E afastaram-se da religião vigente, na comunidade em que viviam. Daí sua denominação: sabeus, os desviados da religião comum. Esta interpretação prevalece sobre a de que eram adoradores das estrelas.
E lembrai-vos de quando firmamos aliança convosco e elevamos acima de vós o Monte[1], dizendo: "Tomai com firmeza o[2] que vos concedemos e lembrai-vos do que há nele, na esperança de serdes piedosos."
[1] Ou seja, o Monte Sinai. Quando Moisés chegou com as tábuas e os judeus tomaram conhecimento das difíceis tarefas que teriam de executar, recusaram-se a aceitá-las. Foi quando o anjo Gabriel, reprovando o ato deles, arrancou o Monte Sinai, erguendo-o acima deles, como um teto. E Moisés lhes disse que aceitassem as leis, ou o Monte cairia sobre eles, esmagando-os. Vide Talmude, Shabb 88a e Êxodo XIX 18. [2] O: o livro dos judeus, ou seja, a Tora.
E, com efeito, sabeis os que de vós cometeram agressão no sábado, então, dissemo-lhes: "Sede símios repelidos![1]"
[1] Símios repelidos: Referência à transgressão do Sábado (vide Êxodo XXXI 14),cometida pelos judeus de Elate às margens do Mar Vermelho, quando reinava Davi. Não podendo fugir á tentação que lhes causava a grande quantidade de peixes, que viam aproximar-se do litoral, os judeus de Elate apanharam-nos, sem escutar as admoestações de alguns homens piedosos. Segundo o Alcorão, Deus puniu-os então, transformando s e u s c o r a - ções e feições; eles tomaram-se semelhantes a símios e foram abandonados pela misericórdia divina e repelidos pela comunidade. (VII 163-166).
E lembrai-vos de quando Moisés disse a seu povo: "Por certo, Allah ordena-vos que imoleis uma vaca[1]". Disseram: "Toma-nos por objeto de zombaria?" Ele disse: "Allah me guarde de ser dos ignorantes!"
[1] A imolação da vaca não constituía prática estranha à tradição Judaica, tal como se pode verificar em Números XXIX 1-10 e, refere-se ao momento que os judeus solicitaram a Moisés que, por eles, rogasse a Deus, para que Este lhes revelasse o verdadeiro culpado de um homicídio, e a comunidade pudesse, assim, isentar-se de culpa.
Disseram: "Suplica por nós a teu Senhor torne evidente para nós como é ela." Disse: "Ele diz que, por certo, é uma vaca nem velha nem nova, meã, entre estas. Então, fazei o que vos é ordenado."
Disseram: "Suplica por nós a teu Senhor, torne evidente para nós qual é sua cor." Disse: "Ele diz que, por certo, é uma vaca amarela, de cor viva; alegra os olhadores."
Disseram: "Suplica por nós a teu Senhor, torne evidente para nós como é ela. Por certo, para nós, todas as vacas se assemelham e, por certo, se Deus quiser seremos guiados."
Disse: "Ele diz que, por certo, é uma vaca não dócil para lavrar a terra nem para regar o campo lavrado; sã, sem mancha alguma". Disseram: "Agora chegaste com a verdade." E imolaram-na; e quase não o fizeram.
E lembrai-vos de quando matastes um homem[1] e disputastes sobre ele[2]. E Allah estava desvendando o que ocultáveis.
[1] No texto em árabe, a palavra « nafs » quer dizer : um homem. [2] Referência ao episódio do rico ancião, entre os filhos de Israel, o qual tinha um só filho. Por ambição, os sobrinhos do ancião resolveram matar-lhe o filho e, assim, herdar-lhe todos os bens. Após o crime, largaram o corpo à porta da cidade e fugiram. Imediatamente, toda a cidade passou a exigir punição dos responsáveis e, à falta de testemunhas, dirigiu-se a Moisés, para que rogasse a Deus lhes indicasse um meio de conhecer a verdade.
Em seguida, vossos corações se endureceram depois disso e se tornaram como as pedras, ou mais veementes na dureza. E, por certo, há dentre as pedras aquelas das quais os rios emanam. E, por certo, há dentre elas as que se fendem, e, delas a água sai. E, por certo, há dentre elas as que se baixam por receio de Deus. E Deus não está desatento ao que fazeis.
Então, aspirais a que eles[1] creiam em vós, enquanto com efeito, um grupo deles ouvia as palavras de Deus, em seguida, após havê-las entendido, distorciam-nas enquanto sabiam?[2].
[1] O versículo se dirige aos moslimes. [2] Eles: os filhos de Israel.
E quando eles[1] deparam com os crentes, dizem: "Cremos"; e quando estão a sós, uns com os outros dizem: "Vós lhes contais o que Deus sentenciou para vós, a fim de argumentarem, com isso contra vós, diante de vosso Senhor? Então, não razoais?"
[1] Alude-se à recriminação feita pelos judeus renegadores do Islão a seus próprios companheiros companheiros mais moderados, que, sabendo da promessa da vinda de um profeta, oriundo de seu meio, revelavam-na aos moslimes, o que, de certa forma, poderia fortalecer o islamismo em detrimento ao Judaísmo.
Então, ai dos que escrevem o Livro[1] com as próprias mãos[2]; e depois disso, dizem: "Isso é de Deus", para o venderem por ínfimo preço! Então, ai deles pelo que escrevem com as próprias mãos! E ai deles pelo que logram!
[1] Ou seja, a Tora. [2] Alusão às alterações perpetradas pelos judeus no texto da Tora, com o fim de tirar-lhe as passagens proféticas da missão de Muhammad.
E dizem: "O Fogo não nos tocará senão por dias contados".[1] Dize, Muhammad: "Firmastes pacto com Deus, então, Deus não faltará a Seu pacto? Ou dizeis de Deus o que não sabeis?"
[1] Dias contados: pensavam os judeus que a permanência no Inferno duraria, apenas, quarenta dias, ou seja, o mesmo tempo que levaram seus antepassados adorando o bezerro de ouro.
E lembra-lhes de quando firmamos a aliança com os filhos de Israel: Não adorareis senão a Allah; e tende benevolência para com os pais e os parentes e os órfãos e os necessitados; e dizei aos homens belas palavras e cumpri a oração[1] e concedei az-zakāh; em seguida, exceto poucos de vós, voltastes as costas dando de ombros.
[1] A oração, em árabe, as-salãh: na tradição islâmica, deve ser feita cinco vezes por dia: na aurora, ao meio-dia, à tarde, ao pôr-do-sol e à noite, a fim de que o homem, em contato constante com Deus, purifique sua alma. A oração pode ser feita em qualquer lugar, não necessariamente no templo, mesquita, devendo ser cumprida, obrigatoriamente, em qualquer circunstância: Estando-se no local em que se vive, ou em viagem, estando-se com saúde ou enfermo. O alvo da oração não se limita, apenas, à glorificação de Deus, com movimentos de reverência e prosterna prosternação, mas, fundamentalmente, à entrega da alma a Deus, à renovação da Fé e à obtenção de Sua misericórdia. (2). Cf. II 43 n5.
E lembrai-vos de quando firmamos a aliança convosco[1]; "Não derramareis vosso sangue e não vos fareis sair uns aos outros de vossos lares"; em seguida, reconheceste-lo, enquanto o testemunháveis.
Em seguida, ei-vos que vos matais uns aos outros e fazeis sair de seus lares, um grupo de vós, auxiliando-vos contra eles com o pecado e a agressão; e se eles chegam a vós como cativos, resgatai-los, enquanto vos é proibido fazê-los sair. Credes então, numa parte do Livro e renegais a outra parte? E a recompensa de quem de vós faz isso não é senão a ignomínia na vida terrena, e no Dia da Ressurreição serão levados ao mais veemente castigo. E Allah não está desatento ao que fazeis.[1]
[1] Esta passagem é alusiva à contraditória atitude dos judeus não só em combate com seus próprios irmãos de sangue e em obediência à lei mosaica, mas, ao mesmo tempo, em resgate deles, segundo o costume e em respeito à lei. Este episódio ocorreu em época anterior ao Islão, quando, em Al Madinah, havia duas grandes tribos árabes, rivais entre si: Al Aus e Al Khazraj, e duas comunidades judaicas, igualmente rivais entre si: Banu Quraizah e Banu an-Nadír. Ocorreu que os Banü Quraizah se aliaram à tribo árabe Al Aus, assim como os Banu an- Nadir se aliaram aos Al Khazraj. Quando se desavieram, as duas tribos árabes contaram com seus respectivos aliados judeus. Foi quando ocorreu o combate de judeus contra judeus, a que se refere esse versículo.
E com efeito, concedemos a Moisés o Livro, e fizemos seguir depois dele, os Mensageiros. E concedemos a Jesus, Filho de Maria, as evidências[1] e amparamo-lo com o Espírito Sagrado[2]. E será que cada vez que um Mensageiro vos chegava com aquilo pelo que vossas almas não se apaixonavam, vós vos ensoberbecíeis? Então, a um grupo desmentíeis, e a um grupo matáveis.
[1] As evidências: relacionadas a Jesus, são, entre outras a ressurreição dos mortos, a cura do cego de nascença, do leproso, etc. (III 49). [2] Espírito Sagrado: o anjo Gabriel mensageiro celestial.
E dizem: "Nossos corações estão encobertos[1]". Não. Mas Deus os amaldiçoou por sua renegação da Fé. Então, quão pouco crêem!
[1] A palavra usada no Alcorão é incircunciso, que traduz a palavra árabe ghulf, significa que seus corações estão selados e a pregação do Profeta não pode neles entrar. Observe-se que este termo tem amplo uso na Bíblia, conforme se pode ver em Deuteronômio X 16, XXX 6, Jeremias VI 1O e outros.
E quando lhes chegou um Livro da parte de Deus[1] confirmando o[2] que estava com eles - e eles antes buscavam a vitória sobre os que renegavam a Fé - quando pois, lhes chegou o que já conheciam, renegaram-no. Então, que a maldição de Deus seja sobre os renegadores da Fé!
[1] Livro vindo de Allah: o Alcorão. [2] O: o Livro, ou seja a Tora. 3.Antes do surgimento do Islão, os judeus, em combate com os idólatras, suplicavam a Deus pela vitória, em nome do profeta descrito na Tora. Vide Deuteronômio XVIII 15 e 18. Porque se julgavam superiores aos descrentes e gentios, deveriam ser os primeiros a reconhecer a nova Verdade, ou seja, aquela trazida por Muhammad, já que era muito similar ao que haviam recebido na Tora. Entretanto, por arrogância, negaram a nova Verdade e se recusaram a professá-la.
Que execrável o preço pelo qual venderam suas almas, ao renegarem o[1] que Allah fez descer, movidos pela revolta de que Allah fizesse descer algo de Seu favor sobre quem Ele quisesse, dentre Seus servos. Então, incorreram em ira sobre ira. E haverá, para os renegadores da Fé, aviltante castigo.
E, quando se lhes diz: "Crede no que Deus fez descer"[1], dizem: "Cremos no que fora descido sobre nós." E renegam o que houve depois disso, enquanto isso é a Verdade que confirma o que está com eles. Dize: "Por que, então, matastes antes, os profetas de Deus, se sois crentes?"
[1] O mesmo que: "...se credes na Tora, onde vos foi prescrita a proibição de matar os profetas". Cf. II 61 n2.
E com efeito, Moisés chegou-vos com as evidências[1]; em seguida, tomastes o bezerro por divindade, depois dele[2], enquanto injustos.
[1] As evidências de Moisés, entre outras, são: a transformação da vara em serpente, a mão que se torna alva, a passagem pelo meio do mar. [2] Ou seja, depois da ida dele ao Monte Sinai (II 51 n4).
E lembrai-vos de quando firmamos a aliança convosco e elevamos acima de vós o Monte[1], dizendo: "Tomai com firmeza o que vos concedemos e ouvi.[2]" Disseram: "Ouvimos e desobedecemos." E por sua renegação da fé, seus corações foram imbuídos do amor ao bezerro. Dize: "Que execrável o que vossa fé vos ordena, se sois crentes!"
[1] Ou seja, o Monte Sinai: proeminente montanha do deserto árabe na Península Arábica, entre os dois golfos do Mar Vermelho. Também cognominado a Montanha de Moisés (Jabel Müssã), pois ali lhe foi entregue a Lei. [2] Ou seja, os mandamentos divinos.
E em verdade, encontrá-los-ás os mais ávidos de vida, e mais ainda que os que idolatram. Cada um deles almeja viver mil anos. E a longevidade não o distanciará do castigo. E Allah, do que fazem, é Onividente.
Dize, Muhammad: "Quem é inimigo[1] de Gabriel, por certo, ele desceu sobre teu coração, com a permissão de Allah, para confirmar o[2] que havia antes dele[3] e para ser orientação e alvíssaras para os crentes"
[1] No início do Islão, um dos rabinos da comunidade judaica indagou do Profeta quem lhe transmitira as revelações divinas, que ensinava. O Profeta respondeu-lhe que fora o anjo Gabriel, o que causou indignação ao rabino, que considerou o anjo inimigo dos judeus, a quem deveria ter entregue as revelações e não aos árabes.Vide Al Zamakhchari, volume I, p. 298, 1966. [2] O: o Alcorão. [3] O: o Livro, ou seja, a Tora.
E quando lhes chegou um Mensageiro da parte de Deus, confirmando o que estava com eles, um grupo daqueles[1] a quem fora concedido o Livro[2] atirou para trás das costas o Livro de Allah, como se não soubessem.
[1] Daqueles: de judeus. [2] Livro: a Tora. Assim procederam em repúdio às profecias da Tora em relação à vinda de Muhammad.
E seguiram o que os demônios recitavam acerca do reinado de Salomão. E Salomão não renegou a Fé[1], mas foram os demônios que a renegaram. Eles ensinaram aos homens a magia e o que fora descido sobre os dois anjos Hãrüt e Mãrüt[2], na Babilônia. E ambos a ninguém ensinaram, sem antes dizer: "Somos, apenas, tentação; então, não renegues a Fé." E os homens aprenderam de ambos o[3] com que separavam a pessoa de sua mulher. E eles não estavam, com ela,[4] prejudicando a ninguém senão com a permissão de Allah. E eles aprenderam o que os prejudicava e não os beneficiava. E, com efeito, sabiam que quem a adquirisse não teria, na Derradeira Vida, quinhão algum. E, em verdade, que execrável o preço pelo qual venderam suas almas! Se soubessem!
[1] Ou seja, Salomão não renegou sua crença, praticando a Magia. [2] Harut e Marut são os dois anjos, igualmente, mencionados nas tradições judaicas do Midrash, e no Novo Testamento. Vide II São Pedro II 4 e São Judas 6. [3] O: aquilo, a magia. [4] Com ela: com a magia.
Ó vós que credes! Não digais a Muhammad "raina", e dizei "unzurnã", e ouvi[1]. E, para os renegadores da Fé, haverá doloroso castigo.
[1] Os moslimes, ao receberem os ensinamentos do Profeta, tinham o hábito de dizer-lhe: "Raina!", imperativo com o sentido de "cuida de Nós!". Os judeus, sempre hostis ao Profeta, para simularem o insulto que lhe dirigiam, usavam este imperativo, com ligeira corruptela fonética, tornando-o, perfidamente, semelhante a uma palavra hebraica, הבער ("Rainu"), que significa "Nosso malvado". Por essa razão, o Alcorão pediu aos moslimes que não mais usassem esta forma invocativa, mas a substituíssem pela palavra "Unzurnã". "Olha-nos".
Nem os que renegam a Fé, dentre os seguidores do Livro[1], nem os idólatras, almejariam que de vosso Senhor descesse algum bem sobre vós. E Allah privilegia, com Sua misericórdia, a quem quer. E Allah é Possuidor do magnífico favor.
[1] Ou seja, os judeus e os cristãos que seguem, respectivamente, a Tora e o Evangelho.
Qualquer versículo que anulemos ou façamos esquecer, faremos chegar um melhor ou igual a ele[1]. Não sabes que Allah, sobre todas as cousas, é Onipotente?
[1] Estas alterações, mormente, visavam a acompanhar a evolução das épocas e costumes. Não foram feitas ex abrupto, mas gradativamente e de forma sábia, a fim de se evitar o impacto e a subseqüente reação das sociedades a que se destinavam.
Ou quereis questionar vosso Mensageiro como antes foi questionado Moisés? E quem troca a Fé pela renegação da Fé, com efeito, se descaminhará do caminho certo.[1]
[1] O versículo dirigido aos moslimes faz alusão à demanda de provas, ou milagres espirituais que, outrora, os filhos de Israel exigiram de Moisés, quando disseram: "Mostra-nos Deus, claramente". (Vide IV 153)
Muitos dos seguidores do Livro[1] almejaram por inveja vinda de suas almas, - após haver-se tornado evidente para eles, a Verdade - tornar-vos renegadores da Fé, depois de haverdes crido. Então, indultai-os e tolerai-os, até que Allah faça chegar Sua ordem. Por certo, Allah, sobre todas as cousas, é Onipotente.
E cumpri a oração e concedei az-zakah. E o que quer de bom que antecipeis a vossas almas, encontrá-lo-eis junto de Allah. Por certo, Allah, do que fazeis, é Onividente[1].
Sim! Quem entrega a face[1] a Allah, enquanto benfeitor, terá seu prêmio junto de seu Senhor. E nada haverá que temer por eles, e eles não se entristecerão.
[1] Aqui, ocorre metonímia de grande valor estilístico, em que a palavra face simboliza a totalidade do ser, e a frase significa: "Entregar-se, inteiramente, a Deus".
E os judeus dizem: "Os cristãos não estão fundados sobre nada." E os cristãos dizem: "Os judeus não estão fundados sobre nada", enquanto eles recitam o Livro[1]! Assim, os que nada sabem[2] dizem algo igual a seu dito. E Allah julgará, entre eles, no Dia da Ressurreição, naquilo de que discrepavam.
[1] O Livro: a Tora e o Evangelho. [2] Ou seja, os árabes pagãos.
E quem mais injusto que aquele que impede, nas mesquitas de Allah, se mencione Seu Nome, e se esforça em arruiná-las? A esses, não lhes é admissível nelas entrarem senão temerosos. Há para eles na vida terrena, ignomínia e haverá para eles na Derradeira Vida, formidável castigo.
E dizem eles:[1] "Allah tomou para Si um filho!" Glorificado seja Ele! Nada tomou Ele. Mas d'Ele é o que há nos céus e na terra. A Ele todos são devotos!
E os que nada sabem dizem: "Que Allah nos fale ou que um sinal venha a nós!" Assim, os que foram antes deles disseram algo igual a seu dito. Seus corações se assemelham. Com efeito, tornamos evidentes os sinais, para um povo que deles se convence.
E nem os judeus nem os cristãos se agradarão de ti, até que sigas sua crença. Dize: "Por certo, a Orientação de Allah é a Verdadeira Orientação." Mas, se seguisses suas paixões, após o que te chegou da ciência[1], não terias, de Allah, nem protetor nem socorredor.
E guardai-vos de um dia em que uma alma nada poderá quitar por outra alma, e não se lhe aceitará intercessão nem se lhe tomará resgate; e eles não serão socorridos.
E lembrai-vos de quando Abraão foi posto à prova por seu Senhor, com certas palavras[1], e ele as cumpriu. O Senhor disse: "Por certo, farei de ti dirigente[2] para os homens." Abraão disse: "E de minha descendência?" Allah disse: "Meu pacto não alcançará os injustos."
[1] Palavras de ordem e proibição. [2] No texto, a palavra é imame, forma aportuguesada de imãm (vide Aurélio, líder, guia, oficiante) Título outorgado a Abraão.
E lembrai-vos de quando fizemos da Casa[1] lugar de visita e segurança para os homens, e dissemos: "Tomai o Maqãm[2] de Abraão por lugar de oração." E recomendamos a Abraão e a Ismael: "Purificai Minha Casa para os que a circundam[3] e para os que estão em retiro e para os que se curvam e se prosternam".
[1] Ou seja, da Ka ͨ bah, o primeiro templo de Deus, construído por Abraáo e Ismael, em Makkah. [2] O Maqam: o local em que Abraão permanecia em pé durante a oração; ou todo o templo, construído por Abraão, ou seja, a Kacbah (vide III 96); ou somente, a pedra, ao lado da Kabah, na qual Abraão se apoiava, enquanto construía o templo, e que ficou marcada com sua pegada (vide III 97). Aliás, é anelo de todo o crente, orar neste lugar. [3] Para os que a circundam: "Al Tawàf”, tal como se denomina, no Islamismo, é parte fundamental da peregrinação a Makkah, e consiste na visita a Kacbah, circundando-a sete vezes, em louvor a Deus.
E lembrai-vos de quando Abraão disse: "Senhor meu, faze desta uma cidade[1] de segurança e dá dos frutos, por sustento, a seus habitantes, àqueles, dentre eles, que crêem em Allah e no Derradeiro Dia." AlIah disse: "E a quem renega a Fé, fá-lo-ei gozar, por algum tempo; em seguida, forçá-lo-ei ao castigo do Fogo. E que execrável destino!"
[1] Referência à cidade de Makkah, a Cidade da Paz, que, desde então, tomou-se a Cidade Sagrada, depositária de paz permanente, onde é proibido o derramamento de sangue, a caça ou qualquer outra violação à vida. É local de prece e veneração.
E lembrai-vos de quando Abraão[1] levantava os alicerces da Casa, e Ismael também, dizendo: "Senhor nosso! Aceita-a de nós. Por certo, Tu, Tu és O Oniouvinte, O Onisciente.
[1] Abraão, com sua escrava, Hãgar , e Ismael, filho primogênito de ambos, rumaram para o sul da Península Arábica, no vale de Makkah, no mesmo local, onde, tempos mais tarde, Abraão recebeu uma revelação de Deus. Ordenou Ele que Abraão construísse, aí, um templo para Sua adoração e, assim, foi er guida a Kacbah, o primeiro santuário consagrado a Deus pelo homem, em todo o mundo (vide III 96).
"Senhor nosso! E faze de ambos de nós submissos para Ti[1], e faze de nossa descendência uma comunidade submissa para Ti; e ensina-nos nossos cultos e volta-Te para nós, remindo-nos. Por certo, Tu, Tu és O Remissório, O Misericordiador.
[1] Moslimes para Ti: o termo corresponde, em árabe, ao particípio presente do Verbo aslama, que, originalmente, significa entregar-se; posteriormente entregar-se, voluntariamente à obediência; e restritamente, entregar-se ao Islão, a religião pregada por todos os profetas monoteístas. Estes termos derivam da raiz árabe Salam, paz. Daí, Islão: a Religião da Paz, e moslim: aquele que se entrega, inteiramente, a esta religião de Deus. E, no Alcorão, o termo moslim qualifica todos os profetas e todo bom crente.
"Senhor nosso! E manda-Ihes[1] um Mensageiro[2], vindo deles o qual recitará, para eles, Teus versículos e lhes ensinará o Livro[3] e a Sabedoria e os dignificará. Por certo, Tu, Tu és O Todo-Poderoso, O Sábio!"
[1] Lhes: à descendência de Abraão e Ismael. [2] Mensageiro, vindo deles: atendendo ã súplica de Abraão, Deus enviou Muhammad por Mensageiro, surgido do meio dos Árabes, descendentes de Ismael, o filho do Patriarca. [3] O Livro: o Alcorão.
E quem, pois, rejeita a crença de Abraão senão aquele cuja alma se perde na inépcia? E, com efeito, escolhemo-lo[1] na vida terrena, e por certo, na Derradeira Vida será dos íntegros.
Quando seu Senhor lhe disse: "Islamiza-te.[1]" Disse: "Islamizo-me, para O Senhor dos mundos".[2]
[1] Islamiza-te: é tradução de Aslim, forma imperativa, derivada de Aslama,pretérito, do infinito Islãm. (Cf. II 128 n1) Note-se que islamízar-se é neologismo calcado no verbo árabe, e criado em função da necessidade de evitar ocorrência de perífrases, constantes, tais como; "entrego-me, submisso, a Deus". [2] Cf. I 2 n1.
E Abraão recomendou-a a seus filhos - e assim também, Jacó - dizendo: "Ó filhos meus! Por certo, Allah escolheu para vós a religião[1]; então não morrais senão enquanto muçulmanos."
Ou fostes vós testemunhas, quando a morte se apresentou a Jacó quando ele disse a seus filhos: "O que adorareis depois de mim?" Disseram: "Adoraremos a teu deus e ao deus de teus pais - Abraão e Ismael e Isaque - como um Deus Único. E para Ele seremos muçulmanos."[1]
[1] Este versículo foi revelado em resposta à assertiva dos judeus de que Muhammad ignorava que Jacó (Israel) antes de morrer, recomendara a seus filhos que seguissem a religião judaica. O Alcorão observou que eles não podiam assegurar tal fato, já que não se encontravam lá na hora de sua morte.
E eles[1] dizem: "Sede judeus ou cristãos, vós sereis guiados." Dize, Muhammad: "Não, mas seguimos a crença de Abraão, monoteísta sincero, e que não era dos idólatras."
Dizei: "Cremos em Allah e no que foi revelado para nós, e no que fora revelado para Abraão e Ismael e Isaque e Jacó e para as tribos; e no que fora concedido a Moisés e a Jesus, e no que fora concedido aos profetas, por seu Senhor. Não fazemos distinção entre nenhum deles. E para Ele somos muçulmanos"[1].
Então, se eles crerem no mesmo em que vós credes, com efeito, guiar-se-ão; e se voltarem as costas, por certo, estarão em discórdia. Então, Allah te bastará contra eles. E Ele é O Oniouvinte, O Onisciente.
"Nossa religião é a tintura[1] de Allah e quem melhor que Allah, em tingir? E a Ele estamos adorando."
[1] Os árabes cristãos misturavam uma tintura, de tonalidade amarelada, à agua batismal, para mostrar que a pessoa batizada tomou nova cor, em vida. O Islamismo não crê seja necessário ser batizado para ser salvo, e assegura que o mais elevado batismo é o batismo de Deus, pelo qual assumimos, simbolicamente, a cor de Deus e nos infundimos em Sua bondade, purificando-nos.
Dize: "Argumentais conosco sobre Allah, enquanto Ele é O nosso Senhor e vosso Senhor, e a nós, nossas obras, e a vós, vossas obras, e para com Ele somos sinceros?
"Ou dizeis que Abraão e Ismael e Isaque e Jacó e as tribos eram judeus ou cristãos?" Dize: "Sois vós mais sabedores, ou Allah? E quem mais injusto que aquele que oculta um testemunho que tem de Allah? E Allah não está desatento ao que fazeis."[1]
[1] Alusão aos judeus que ocultaram o testemunho de que haveria de chegar um profeta, com a mesma mensagem de Abraão, ou seja, a do Islão.
Os insensatos, entre os homens, dirão: "O que os fez voltar as costas a sua direção Quiblah,[1] para a qual estavam virados?" Dize, Muhammad: "É de Allah o Levante e o Poente. Ele guia a quem quer a uma senda reta."
[1] Quiblah: a direção para a qual os moslimes se voltam na prece, ou seja, em direção a Kaᶜbah, em Makkah. Nas primícias do Islão, os moslimes, em prece, se voltavam em direção a Jerusalém; depois foram ordenados a voltar-se para a Kaᶜbah em Makkah. Esta mudança desagradou a muitos judeus, que viram nisto, um meio de desprestigiar o judaísmo, que, até então, ditava para todos a direção na prece.
E assim, fizemos de vós[1] uma comunidade mediana[2] para que sejais testemunhas dos homens e para que o Mensageiro seja testemunha de vós. E não fizemos a direção, para a qual tu, Muhammad, estavas virado, senão para saber distinguir quem segue o Mensageiro de quem torna atrás, virando os calcanhares. E, por certo, essa mudança é penosa, exceto para aqueles a quem Allah guia. E não é admissível que Allah vos faça perder as recompensas da Fé. Por certo, Allah, para com os homens, é Compassivo, Misericordiador[3].
[1] Vós: os moslimes; [2] Mediana é tradução do vocábulo árabe wasat (o meio), e indica que a nação árabe deve estar isenta de extremismo, em todos os aspectos, uma vez que, segundo a máxima árabe, o que é melhor está no meio, aliás, essa idéia coincide com a máxima latina "in médio stat virtus"; [3] Assim o versículo redargúi aos moslimes, que indagaram se, também, perderiam suas recompensas aqueles que, antes, nas preces, se dirigiam para Jerusalém.
Com efeito, vemos o revirar de tua face para o céu. Então, Nós voltar-te-emos, em verdade, para uma direção, que te agrade. Volta, pois, a face rumo à Mesquita Sagrada. E onde quer que estejais, voltai as faces para o seu rumo. E, por certo, aqueles aos quais fora concedido o Livro[1] sabem que isso é a verdade de seu Senhor. E Allah não está desatento ao que fazem.
E em verdade, se fizeres vir todos sinais àqueles aos quais fora concedido o Livro[1] eles não seguirão tua direção nem tu seguirás sua direção; e, entre eles, uns não seguirão a direção dos outros[2]. E em verdade, se seguisses suas paixões, após o que te chegou da ciência, por certo, serias, nesse caso, dos injustos.
[1] O Livro: a Tora e o Evangelho; [2] Nem os judeus seguirão a quiblah dos cristãos (o Levante) nem estes a daqueles (Jerusalém).
Aqueles aos quais concedemos o Livro[1], conhecem-no[2] como conhecem a seus filhos, e por certo, um grupo deles oculta a verdade, enquanto sabe.
[1] O Livro: a Tora; [2] O pronome refere-se ao Profeta Muhammad. O versículo alude ao que certo judeu, convertido ao Islão, de nome Ibn Salãm, haveria dito: "Reconheci-o. ao vê-lo, como reconheço meu filho, até mais ainda".
E para cada um há um rumo, para onde Ele o faz voltar-se. Então, emulai-vos, pelas boas ações. De onde quer que estejais, Allah vos fará vir a todos. Por certo, Allah, sobre todas as cousas, é Onipotente.
E, para onde quer que saias, volta a face rumo à Mesquita Sagrada; e por certo, esta é a Verdade de teu Senhor. E Allah não está desatento ao que fazeis.
E para onde quer que saias, volta a face rumo à Mesquita Sagrada; e onde quer que estejais, voltai as faces para seu rumo a fim de que não haja, da parte das pessoas, argumentação contra vós, exceto dos injustos entre elas. Então, não os receeis, e receai-Me. -E isso, para que Eu complete Minha graça para convosco, e para vos guiardes.
Assim enviamo-vos um Mensageiro vindo de vós, que recita para vós Nossos versículos e vos dignifica e vos ensina o Livro[1] e a Sabedoria, e vos ensina o que não sabíeis.
Por certo, As-Safa e Al Marwah[1] estão entre os lugares sagrados de Allah. Então, quem quer que faça a peregrinação à Casa ou faça Al Umrah[2] não haverá culpa sobre ele, ao fazer vai-vém entre ambos. E quem faz, voluntariamente uma boa ação, por certo, Allah é Agradecido, Onisciente.
[1] As-Safa e Al Marwah: as duas colinas, localizadas nas proximidades do vale de Makkah, perto da Kaᶜbah e do poço Zam-Zam, as quais escalou Hãgar, sucessivamente, sete vezes, em busca de água para seu filho Ismael. Extenuada pela busca, retornou para junto do filho, ao lado do qual encontrou um anjo, escavando a terra, de onde fez brotar um poço, o poço Zam-Zam, existente até os dias de hoje. Este percurso de sete escaladas às colinas integrou-se ao ritual da peregrinação desde os tempos abraâmicos. Ocorre que, anteriormente ao Islão, os árabes locupletaram a Kaᶜbah e seus arredores de ídolos, a tal ponto que, na colina de As-safa e Al Marwah, adoravam, respectivamente, os ídolos; Issãf e Na ila. Com o advento do Islão e aniquilados os ídolos, a peregrinação passou a constituir um dos pilares do Islamismo, juntamente com as-salãh, az-zakãh, o jejum e a profissão de fé. Com receio de serem confundidos com os pagãos, os primeiros moslimes abstiveram-se percorrer as duas colinas e, por essa razão, foi revelado esse versículo para esclarecê-los sobre isso, tranqüilizá-los e convidá-los a continuar observando este ritual; onde se deve permanecer, algum tempo. Esta prática é recomendada a todos os moslimes, ao menos por uma vez na vida, no 12.° mês do ano lunar, desde que o crente esteja em condições físicas e econômicas favoráveis. Além do culto religioso, é congraçamento universal, pois reúne moslimes de todas as partes do mundo. Os peregrinos devem trajar-se uniformemente, com, apenas, dois panos brancos e sem costuras, adaptados ao corpo; as mulheres devem trajarse com roupas longas, e, conjuntamente, todos dão graças ao Senhor e Lhe entoam louvores, longe das coisas mundanas, das vaidades e paixões, e, mormente, das diferenças existentes entre os homens: o rei se prostra ao lado do plebeu, o pobre , do rico, o negro do branco, em pé de igualdade, irmanados em uma única fé; [2] Al-umrah: forma derivada do verbo iᶜtamara, visitar; conjunto de ritos islâmicos, que consistem na visita de Kacbah e no percurso entre as duas colinas de As-Safa e Al Marwah, feita em qualquer época do ano.
Por certo, os que ocultam o que fizemos descer das evidências e da orientação depois de o havermos tornado evidente para os homens no Livro[1], a esses Allah os amaldiçoará, e também os amaldiçoarão os amaldiçoadores.
Exceto os que se voltam arrependidos e se emendam e evidenciam a verdade; então, para esses voltar-Me-ei, remindo-os. E Eu sou O Remissório, O Misericordiador.
Por certo, na criação dos céus e da terra e na alternância da noite e do dia e no barco que corre no mar, com o que beneficia a humanidade; e na água que Allah faz descer do céu, com a qual, vivifica a terra depois de morta e nela espalha todo tipo de ser animal, e na mudança dos ventos e das nuvens submetidos entre o céu e a terra, em verdade, nisso tudo, há sinais para um povo que razoa.
E dentre os homens, há quem, em vez de Allah, tome semelhantes[1] em adoração, amando-os como se ama a Allah. E os que crêem são mais veementes no amor de Allah. E se os injustos soubessem, quando virem o castigo, que toda a força é de Allah e que Allah é Veemente no castigo, não haveriam adorado os ídolos.
[1] Semelhantes: ídolos ou próceres (entre os homens).
E os seguidores dirão: "Se tivéssemos retorno à vida, romperíamos com eles, como eles romperam conosco." Assim, Allah os fará ver que suas obras são aflições para eles. E jamais sairão do Fogo.
E quando se lhes[1] diz: "Segui o que Allah fez descer", dizem: "Não, mas seguimos aquilo[2] em que encontramos nossos pais." E ainda que seus pais nada razoassem nem se guiassem?
[1] Lhes: aos idólatras; [2] Aquilo: o culto religioso dos antepassados.
E o exemplo do admoestador para os que renegam a Fé é como o daquele que grita para o animal, que não ouve senão convocar e chamar. São surdos, mudos, cegos, então não razoam.
Ele vos proibiu apenas, a carne do animal morto e o sangue, e a carne de porco, e o que é imolado com a invocação de outro nome que Allah[1]. E quem é impelido a alimentar-se disso, não sendo transgressor[2] nem agressor não haverá pecado sobre ele. Por certo, Allah é Perdoador, Misericordiador.
[1] Esta proibição, promulgada há quatorze séculos, já antecipava recentes descobertas da Medicina, que, agora, proíbe a ingestão de carne de animais mortos naturalmente, e não adrede mortos para servir de alimento. E, pelo fato de a morte poder ser causada por doença ou envenenamento, deve-se evitar ingerir esta carne, para não haver perigo de contaminação ou morte. Quanto à ingestão de carne de porco, fica terminantemente proibida, ao que parece, pelas idênticas razões apontadas hoje, na Medicina, entre as quais, a transmissão da Tênia Solium e da Triquina, grandemente nocivas à saúde; [2] Por transgressor, entenda-se o que transgride suas necessidades naturais de alimentação, comendo a mais; por agressor o que arrebata a porção encontrada por outro, em situações específicas (quando no deserto, por exemplo).
Por certo, os que ocultam algo do Livro[1] que Allah fez descer e o vendem por ínfimo preço, esses não devorarão para dentro de seus ventres senão o Fogo, e Allah não lhes falará, no Dia da Ressurreição, nem os dignificará; e terão doloroso castigo[2].
[1] Do livro: da Tora; [2] Metonímia de notável valor expressivo, para ilustrar o terrível castigo destinado àqueles que perpetraram este enorme pecado.
A bondade não está em voltardes as faces para o Levante e para o Poente; mas a bondade é a de quem crê em Allah e no Derradeiro Dia e nos anjos e no Livro e nos profetas; e a de quem concede a riqueza, embora a ela apegado, aos parentes, e aos órfãos, e aos necessitados, e ao filho do caminho[1] e aos mendigos, e aos escravos[2]; e a de quem cumpre a oração e concede az-zakah; e a dos que são fiéis a seu pacto, quando o pactuam; e a dos que são perseverantes na adversidade e no infortúnio e em tempo de guerra. Esses são os que são verídicos e esses são os piedosos.[3]
[1] Filho do Caminho: é tradução direta da expressão metafórica ibn as-sabil, ou seja, aquele que, em viagem, despojado de recursos e sem condições de recorrer a seus outros bens, fica à mercê desta contingência, a meio caminho de seu destino. Integram esta categoria os estudantes bolsistas, os intrépidos pioneiros, os missionários, os pregadores, etc; [2] Trata-se de uma categoria de escravos, mukatab: os que fazem acordo com seu senhor, para obtenção de alforria, mediante soma determinada. Além disso, o Alcorão conclama os crentes a não apenas ajudarem o escravo na obtenção da alforria, mas a se empenharem no resgate dos prisioneiros de guerra; [3] Cf II 43 n 5.
Ó vós que credes! É-vos prescrito o talião para o homicídio: o livre pelo livre e o escravo pelo escravo e a mulher pela mulher; e aquele, a quem se isenta de algo do sangue de seu irmão, deverá seguir, convenientemente, o acordo e ressarci-lo,[1] com benevolência. Isso é alívio e misericórdia de vosso Senhor. E quem comete agressão depois disso, terá doloroso castigo.
[1] Ou seja, substituir o talião pelo ressarcimento.
E, no talião, há vida para vós ó dotados de discernimento, para serdes piedosos.[1]
[1] Do impulso para o crime, nasce o receio da punição, aplicada pela retaliação. Do receio, surge salvação da vítima e do criminoso. Daí, da intenção da morte, surge a vida. E toda a sociedade se beneficia com este sábio preceito, sucinta e maravilhosamente construída neste versículo.
É-vos prescrito, quando a morte se apresentar a um de vós, Se deixar bens, fazer testamento[1] aos pais e aos parentes, convenientemente. É dever que impende aos piedosos.[2]
[1] O Testamento, conforme as leis islâmicas, jamais, poderá ligar a outrem, que não os herdeiros, mais que um terço dos bens da pessoa a fim de não prejudicar os legítimos herdeiros; [2] Este versículo foi ab-rogado pelos versículos que posteriormente, passaram a tratar das questões da herança, e pelo que disse o Profeta: "Nào há testamento para o herdeiro legítimo".
E quem teme, por parte do testador, parcialidade ou pecado, e faz reconciliação entre eles,[1] sobre ele não haverá pecado. Por certo, Allah é Perdoador, Misericordiador.
[1] Eles: os herdeiros. O versículo alude aos que promovem a justa distribuição de bens entre os legítimos herdeiros
Ó vós que credes! É-vos prescrito o jejum[1] como foi prescrito aos que foram antes de vós, para serdes piedosos.
[1] O jejum foi prática religiosa conhecida de todas as civilizações antigas e considerado mais como forma de contrição e expiação, além de culto espiritual para a purificação da alma. Do ângulo islâmico, o jejum é a abstenção total dos alimentos e da união sexual, durante o período que vai da alvorada ao por do sol, e, todos os moslimes devem jejuar trinta dias por ano, em data específica, ou seja, no Ramadã, o nono mês do calendário lunar, em que foi iniciada a revelação do Alcorão, e também chamado de "mês da misericórdia, da benevolência e do jejum". O jejum, para ser perfeito, requer abstenção, inclusive, de maledicência, de palavras tolas, de mentira e ódio.
Durante dias contados. E quem de vós estiver enfermo ou em viagem, que jejue o mesmo número de outros dias. E impende aos que podem fazê-lo, mas com muita dificuldade[1], um resgate: alimentar um necessitado. E quem mais o faz, voluntariamente, visando ao bem, ser-lhe-á melhor. E jejuardes vos é melhor. Se soubésseis![2].
[1] Entenda-se, por dificuldade, aquela provocada pela velhice ou por enfermidade incurável. Neste caso, a desobrigação do jejum se faz por meio da alimentação de um necessitado por dia, em todo Ramadã, ou de um mesmo necessitado, por trinta dias; [2] Referência ao benefício do jejum. A medicina moderna aquiesce, plenamente, nisto, pois descobriu, entre outros benefícios, que o jejum cura o diabetes, o artritismo, age contra males cardíacos e digestivos, além de promover salutar desintoxicação orgânica e prevenção de várias outras enfermidades.
Ramadan é o mês em que foi revelado o Alcorão, como orientação para a humanidade e como evidências da orientação e do critério de julgar. Então, quem de vós presenciar esse mês, que nele jejue; e quem estiver enfermo ou em viagem, que jejue o mesmo número de outros dias. Allah vos deseja a facilidade, e não vos deseja a dificuldade. E fê-lo para que inteireis o número prescrito, e para que magnifiqueis a Allah, porque vos guiou, e para serdes agradecidos[1].
E quando Meus servos te perguntarem por Mim, por certo, estou próximo, atendo a súplica do suplicante, quando Me suplica. Que eles Me atendam, então, e creiam em Mim, na esperança de serem assisados.
É-vos lícita, na noite do jejum, a união carnal com vossas mulheres. Elas são para vós vestimentas e vós sois para elas vestimentas. Allah sabia que vos traíeis a vós mesmos a esse respeito, e Ele voltou-Se para vós e indultou-vos. Então, agora, juntai-vos a elas e buscai o que Allah vos prescreveu. E comei e bebei até que se torne evidente para vós, o fio branco do fio negro da aurora. Em seguida, completai o jejum até o anoitecer. E não vos junteis a elas, enquanto estiverdes em retiro nas mesquitas. Esses são os limites de Allah: então, não vos aproximeis deles. Assim, Allah torna evidentes Seus sinais, para os homens, a fim de serem piedosos.[1]
[1] Anteriormente à revelação deste versículo, houve alguns companheiros do Profeta, inclusive, Omar, que acreditavam haver cometido traição, por haverem dormido com suas mulheres, à noite, durante o mês do Ramadã. Daí o presente versículo, que veio para esclarecer que a cópula noturna, durante o período do Ramadã, não constitui, de forma alguma, pecado.
E não devoreis, ilicitamente, vossas riquezas, entre vós, e não as entregueis em suborno aos juízes, para devorardes, pecaminosamente, parte das riquezas das pessoas, enquanto sabeis.
Perguntam-te pelas luas crescentes. Dize: "São marcas do tempo para a humanidade e também para a peregrinação." E a bondade não está em chegardes a vossas casas pelos fundos; mas, a bondade é a de quem é piedoso. E chegai a vossas casas por suas portas.[1] E temei a Allah, na esperança de serdes bem-aventurados.
[1] Referência ao costume pré-islâmico, observado pelos árabes, de entrar nas casas, no regresso da peregrinação, não pela porta principal, mas por um orifício feito nos fundos da casa, ou pela parte superior desta, por meio de utilização da escada. Acreditavam os árabes tratar-se de ato virtuoso, pois, se regressavam puros da peregrinação, constituiria pecado ultrapassar a porta usual, que deixaram quando em estado impuro ainda. O Alcorão negou a virtuosidade de tal procedimento e ordenou aos peregrinos que, de regresso a seus lares, se utilizassem da porta principal. E acrescentou que a virtude real está em praticar o bem e não em instituir tolas proibições como esta.
E combatei[1], no caminho de Allah os que vos combatem, e não cometais agressão. Por certo, Allah não ama os agressores.
[1] A expressão combater no caminho de Allah quer dizer lutar pela religião de Deus, para salvar o descrente do julgo da descrença. Deste versículo até o 195 trata-se da permissão do combate, segundo o Islão, não só para defendê-lo, mas para extinguir a idolatria.
E matai-os, onde quer que os acheis, e fazei-os sair de onde quer que vos façam sair. E a sedição pela idolatria é pior que o morticínio. E não os combatais nas imediações da Mesquita Sagrada, até que eles vos combatam nela. Então, se eles vos combaterem, matai-os. Assim é a recompensa dos renegadores da Fé.
E combatei-os, até que não mais haja sedição pela idolatria e que a religião seja de Allah. Então, se se abstiverem, nada de agressão, exceto contra os injustos.
O Mês Sagrado pelo Mês Sagrado[1] e para as cousas sagradas, o talião. Então, a quem vos agredir, agredi-o de igual modo, como ele vos agrediu. E temei a Allah e sabei que Allah é com os piedosos.
[1] Há, na tradição árabe, quatro meses sagrados. Três consecutivos: Zul-Qadcah, Zul-Hajjah e Al Muharram, respectivamente os meses 11.°, 12.° e 1.° do ano lunar. E um mês à parte, Rajab, o 7. ° mês. Durante toda a época pré-islâmica, houve o hábito de cessar qualquer combate que fosse nessas datas, e tal hábito foi respeitado pelo Islão, até que os idólatras violaram esses meses sagrados, em combate aos moslimes, que precisaram revidar. Este versículo endossa o combate em defesa, mesmo que ocorra nesses meses citados.
E despendei no caminho de Allah, e não lanceis vossas mãos à ruína.[1] E bem-fazei. Por certo, Allah ama os benfeitores.
[1] Estender as mãos à ruína: proceder, avaramente na defesa da religião, subtraindo o auxílio aos combatentes, o que favorece a ação arruinadora do inimigo.
E completai a peregrinação e al Umrah por Allah[1]. E, se fordes impedidos de fazê-lo, impender-vos-á o que vos for acessível das oferendas[2]. E não rapeis vossas cabeças, até que as oferendas atinjam seu local de imolação.[3] E quem de vós estiver enfermo ou com moléstia no couro cabeludo, que o obrigue a rapar a cabeça, ímpender-lhe-á um resgate; jejum ou esmola ou sacrifício ritual. E, quando estiverdes em segurança, aquele de vós que cumprir al Umrah e usufruir o que lhe é permitido, até a peregrinação, impender-lhe-á o que lhe for acessível das oferendas[4]. E quem o não encontrar, que jejue três dias, durante a peregrinação, e sete, quando retornardes. Serão dez dias inteiros. Isso para aquele cuja família não resida nas proximidades da Mesquita Sagrada. E temei a Allah e sabei que Allah é Veemente na punição.
[1] Cf II P.28 n1; [2] Cf II P.28 n2; [3] Trata-se de local específico, perto de Makkah, para imolação das reses (carneiro, vaca, camelo), destinadas à oferenda; [4] Ao peregrino, cabe o cumprimento só de al-hajj, ou de alᶜumra e al-hajj simultaneamente. Neste caso, ou os cumpre conjuntamente ou os desvincula, com intervalo de poucos dias, durante os quais pode retornar à vida normal, usufruindo do que lhe é permitido: vestir-se normalmente, pentear-se, barbear-se.
A peregrinação se faz em meses determinados. E quem neles se propõe a peregrinação, então, não haverá união carnal nem perversidade nem contenda, na peregrinação. E o que quer que façais de bom, Allah o sabe. E abastecei-vos; e por certo, o melhor abastecimento é a piedade. E temei-Me, ó dotados de discernimento!
Não há culpa sobre vós, ao buscardes favor de vosso Senhor em vossos negócios[1]. E, quando prosseguirdes do monte Arafat[2], lembrai-vos de Allah junto do Símbolo Sagrado[3]. E lembrai-vos bem d'Ele, como Ele bem vos guiou; e por certo, éreis antes disso, dos descaminhados.
[1] Em tempos pré-islâmicos, nas épocas próximas da peregrinação, os árabes mantinham o comércio, normalmente, para, apenas, cessarem de fazê-lo, com a chegada dos peregrinos, crendo-o pecado. Este versículo foi revelado para esclarecer que a prática do comércio, nessa época, é aprovada pelo Islão e não constitui pecado algum; [2] Arafat: nome da montanha e da planície situadas a leste de Makkah, onde os peregrinos moslimes devem permanecer por algum tempo, no 9.° dia do 12.° mês do ano lunar, ou seja, o Zul-Hajjah. A permanência aí é parte integrante e básica da peregrinação, sem a qual ela fica incompleta; [3] O Símbolo Sagrado: ai Muzdalifah, lugar, entre Arafat e Minã, onde esteve o Profeta Muhammad, em longa oração. Tornou-se, por isso, símbolo sagrado e convite aos peregrinos para que nele orem, quando de regresso do Monte Arafat.
Em seguida, prossegui de onde prosseguem os outros homens; e implorai perdão de Allah[1]. Por certo, Allah é Perdoador, Misericordiador.
[1] Exortação feita aos Quraich, tribo de escol da Península Arábica, à qual pertencia a família do Profeta Muhammad, e cuja maioria, posteriormente, tornou-se hostil ao Profeta, em virtude da ferrenha oposição feita por este ao paganismo vigente. Após inumeráveis contendas, conhecidas pela história islâmica, os Quraich se tornaram moslimes definitivamente. Entretanto, consideravam-se, ainda, pertencentes ao escol e, por essa razão, em épocas de peregrinação, não se misturavam ao conjunto dos crentes, permanecendo distantes deles. Este versículo os exorta a que sigam os demais crentes, sem discriminação alguma.
E, quando houverdes encerrado vossos ritos[1] então, lembrai-vos de Allah, assim como vos lembráveis de vossos pais ou mais veementemente em lembrança. E, dentre os homens, há quem diga: "Senhor nosso! Concede-nos nosso quinhão na vida terrena." E não terão, na Derradeira Vida, quinhão algum.[2]
[1] Os ritos da peregrinação, tais como: a Imolação da Oferenda, o Circundamento da Kaᶜbah e o Lançamento das Pedras contra o Satã, no local chamado Marmã al Jamarãt; [2] Em tempos que antecederam o Islão, houve o hábito de os peregrinos árabes, após o cumprimento dos rituais de peregrinação, reunirem-se nas proximidades da Kacbah, onde formavam as famosas feiras literárias (Ukaz, Majannah e Zul-Majãz), palco do estro retórico e da facúndia inigualável desse povo. Delas se ocupavam em grande parte para celebrar os feitos de seus familiares e antepassados, em viva demonstração de ufania. Este versículo os convida a celebrarem a Deus tanto como aos seus, ou mais ainda.
E, dentre eles, há quem diga: "Senhor nosso! Concede-nos, na vida terrena, beneficio e na Derradeira Vida, benefício; e guarda-nos do castigo do Fogo."
E invocai a Allah em dias contados.[1] E, quem se apressa e o faz em dois dias, não haverá pecado sobre ele. E quem se atrasa, não haverá pecado sobre ele. Isso para quem é piedoso. E temei a Allah e sabei que a Ele sereis reunidos.
[1] Os dias contados: ayyãm at-tachriq: os três dias depois do 10.˚ do mês Zul-Hajjah, quando os peregrinos permanecem no Vale de Minã, para orações e louvores, e recitam At-Takbír, prece específica, freqüentemente recitada nesses dias.
E dentre os homens, há aquele cujo dito, acerca da vida terrena, te admira, Muhammad, e que toma a Allah por testemunha do que há em seu coração, enquanto é o mais veemente inimigo.
Não esperam eles[1] senão que Allah chegue a eles, em dosséis de nuvens, e também os anjos, e que a determinação seja encerrada? E a Allah são retornadas as determinações.
[1] Os idólatras. O versículo indaga deles até quando protelarão seu ingresso no caminho reto. Esperam fazê-lo, somente, quando virem chegar Deus e os anjos, nas sombras das nuvens? Mas não sabem que tudo, então, estará consumado?
Pergunta, Muhammad, aos filhos de Israel, quantos sinais evidentes lhes concedemos! E quem troca[1] a graça de Allah, após haver-lhe chegado, por certo, Allah é Veemente na punição.
A vida terrena aformoseou-se, para os que renegam a Fé, e eles escarnecem dos que crêem. E os que são piedosos estarão acima deles, no Dia da Ressurreição. E Allah dá sustento, sem conta, a quem quer.
A humanidade era uma só comunidade.[1] Então, Allah enviou os profetas por alvissareiros e admoestadores. E por eles, fez descer o Livro[2] com a Verdade, para julgar entre os homens no de que discrepavam. E não discreparam dele senão aqueles aos quais fora concedido o Livro[3], após lhes haverem chegado as evidências, movidos por rivalidade entre eles. Então, Allah guiou, com Sua permissão, os que creram para aquilo de que discrepavam da Verdade. E Allah guia a quem quer à senda reta.
[1] Mas, depois, divergem. Vide X 19; [2] O Livro: todos os Livros revelados; [3] O Livro: a Tora.
Ou supondes entrareis no Paraíso, enquanto ainda não chegaram a vós provações iguais às dos que foram antes de vós? A adversidade e o infortúnio tocaram-nos e foram estremecidos a tal ponto que o profeta e os que creram com ele disseram: "Quando chegará o socorro de Allah?" Ora, por certo, o socorro de Allah está próximo.
Perguntam-te pelo que devem despender. Dize: "O que quer que despendais de bom é para os pais e os parentes e os órfãos e os necessitados e o filho do caminho. E o que quer que façais de bom, por certo, Allah é disso, Onisciente."[1]
É-vos prescrito o combate e ele vos é odioso. E quiçá, odieis algo que vos seja melhor. E quiçá, ameis algo que vos seja pior. E Allah sabe, e vós não sabeis.
Perguntam-te pelo combate no mês sagrado. Dize: "Combater nele é grande pecado. E pecado maior, perante Allah, é afastar os homens do caminho de Allah e renegá-LO, e afastá-los da Mesquita Sagrada[1] e fazer sair dela seus habitantes." E a sedição pela idolatria é pecado maior que o morticínio. E eles[2] não cessarão de combater-vos, até que vos façam apostatar de vossa religião, se eles o puderem. E quem de vós apóstata de sua religião e morre enquanto renegador da Fé, esses terão anuladas suas obras, na vida terrena e na Derradeira Vida. E esses são os companheiros do Fogo. Nele, serão eternos.
[1] Mesquita Sagrada: aqui abrange a cidade de Makkah. [2] Eles: Os idólatras.
Por certo, os que creram e os que emigraram[1] e lutaram no caminho de Allah, esses esperam pela misericórdia de Allah. E Allah é Perdoador, Misericordiador.
Perguntam-te pelo vinho[1] e pelo jogo de azar. Dize: "Há em ambos grande pecado e benefício para os homens e seu pecado é maior que seu benefício.[2]" E perguntam-te o que devem despender. Dize: "O sobejo." Assim, Allah torna evidentes para vós os sinais para refletirdes.
[1] Por vinho entenda-se toda bebida inebriante. [2] Este versículo refere-se à primeira fase da proibição do vinho, imposta, paulatinamente, a todos os moslimes em geral, e de toda Península Árabe, em particular, onde seu uso era arraigado e generalizado. O Islão percebeu que uma proibição categórica e inicial não poderia lograr bons resultados. Por isso, agiu gradualmente, na enunciação destas prescrições. Na sura IV 43, ocorre a segunda delas; na V 90, a terceira e última, com a proibição categórica do vinho.
Acerca da vida terrena e da Derradeira Vida. E perguntam-te pelos órfãos. Dize: "Emendar-lhes as condições de vida é o melhor. E se vos misturais a eles, são vossos irmãos." E Allah sabe distinguir o corruptor do emendador. E, se Allah quisesse, embaraçar-vos-ia. Por certo, Allah é Todo-Poderoso, Sábio.
E não esposeis as idólatras, até se tornarem crentes. E em verdade, uma escrava crente é melhor que uma idólatra, ainda que a admireis. E não façais esposar vossas filhas com os idólatras, até se tornarem crentes. E em verdade, um escravo crente é melhor que um idólatra, ainda que o admireis. Estes[1] convocam ao Fogo; enquanto Allah convoca, com Sua permissão, ao Paraíso e ao perdão. E Ele torna evidentes Seus sinais, para os homens, a fim de meditarem.
E perguntam-te pelo menstruo.[1] Dize: "É moléstia". Então, apartai-vos das mulheres, durante o menstruo, e não vos unais a elas, até se purificarem.[2] E, quando se houverem purificado, achegai-vos a elas, por onde[3] Allah vos ordenou. Por certo, Allah ama os que se voltam para Ele, arrependidos, e ama os purificados.
[1] Além da indisposição e do mal-estar que causa à mulher, há o problema higiênico. Crê-se que a ação do fluxo sangüíneo, na vagina, durante o período menstrual, enseje ambiente favorável à proliferação de bactérias, causadoras de inflamações, que podem não só danificar o aparelho genital feminino, mas também o masculino, em havendo cópula, daí a prescrição que a proíbe nesse período. [2] Ou seja, até se mundificarem, após o mênstruo, com banho completo. [3] As questões de sexo, no Alcorão, são tratadas de maneira discreta e sucinta. Aqui, coito vaginal, a unica maneira que o islão, permite , nas relações sexuais.
Vossas mulheres são para vós, campo lavrado. Então, achegai-vos a vosso campo lavrado, como e quando quiserdes. E antecipai boas obras, para vós mesmos. E temei a Allah, e sabei que deparareis com Ele. E alvissara, Muhammad, aos crentes o Paraíso!
E não façais do nome de Allah barreira a vossos juramentos de não serdes bondosos e piedosos reconciliadores, entre as pessoas[1]. E Allah é Oniouvinte, Onisciente.
[1] Se O homem jurar, em nome de Deus, não praticar uma boa ação, não deve manter este juramento, ao contrário, deve empenhar-se na prática constante do bem e expiar este juramento.
Para os que juram abster-se de estar com suas mulheres, há espera de quatro meses.[1] E se retrocederem, por certo, Allah é Perdoador, Misericordiador.
[1] Anteriormente ao Islão, era habitual, entre os árabes, a prática do 'ílã', ou seja, do juramento, feito pelo homem, quando divergia de sua mulher, de não mais aproximar-se dela, por quatro meses ou mais. Sendo assim, a mulher ficava presa a uma situação bem difícil e constrangedora:" suspensa",nem casada nem divorciada. Obviamente, o Islão, objurgando tal procedimento, recomenda, neste versículo, que, após quatro meses, não desejando o marido voltar atrás, consuma- se o divórcio e seja liberada a mulher.
E que as divorciadas aguardem, elas mesmas, antes de novo casamento, três períodos menstruais[1] e não lhes é lícito ocultarem o que Allah criou em suas matrizes se elas crêem em Allah e no Derradeiro Dia. E nesse ínterim, seus maridos têm prioridade em tê-las de volta, se desejam reconciliação[2]. E elas têm direitos iguais às suas obrigações, convenientemente. E há para os homens um degrau acima delas. E Allah é Todo-Poderoso, Sábio.
[1] Isso, para elas se assegurarem da ausência de gravidez. [2] Compete ao homem, em caso de divórcio, voltar atrás na decisão. Ele é quem deve deliberar sobre o assunto. Parece que o escalão, mencionado neste versículo, refere-se a este privilégio, e deve, assim, ser entendido, estritamente, neste caso, não genericamente, em todos os assuntos de vida (Vide Sayyed Qutb, Zilal-al-Qur ãn, volume II, pp. 246-247).
O divórcio é permitido por duas vezes.[1] Então, ou reter a mulher convenientemente, ou libertá-la, com benevolência. E não vos[2] é lícito retomardes nada do que lhes haveis concedido, exceto quando ambos temem não observar os limites de Allah.[3] Então, se vós[4] temeis que ambos não observem os limites de Allah, não haverá culpa sobre ambos por aquilo com que ela[5] se resgatar. Esses são os limites de Allah: então, não os transgridais. E quem transgride os limites de Allah, esses são os injustos.
[1] As leis islâmicas estabelecem que o divórcio é revogável até duas vezes. O homem pode retornar sua mulher, após o primeiro divórcio, para continuarem a viver normalmente. Se a segunda tentativa de convívio malograr, poderá o casal divorciar-se novamente, ainda com direito a mais uma tentativa de convivência; mas, se persistirem as incompatibilidades, o Alcorão recomenda que se divorciem definitiva e irrevogavelmente. Entretanto, se a mulher se casar com outro e dele divorciar-se, o Alcorão permite que torne a casar-se novamente, com o primeiro marido, de quem já estiver divorciada (vide II 230). [2] Vos: a vós, maridos; [3] Ou seja, as proibições impostas por Deus; [4] Ou seja: "...se vós, autoridade, temerdes..."; [5] Ela: a mulher;
E se ele se divorcia dela, pela terceira vez, ela lhe não será lícita novamente até esposar outro marido. E, se este se divorcia dela, não haverá culpa sobre ambos, ao retornarem um ao outro, se pensam observar os limites de Allah. E esses são os limites de Allah, que Ele torna evidentes, para um povo que sabe.
E quando vos divorciardes das mulheres e elas atingirem seu prazo de espera retende-as convenientemente ou libertai-as, convenientemente.[1] Mas não as retenhais, prejudicando-as para infligir-lhes agressões. E quem o faz, com efeito, é injusto com si mesmo. E não tomeis os versículos de Allah por objeto de zombaria[2]. E lembrai-vos da graça de Allah para convosco e daquilo que Ele fez descer sobre vós: o Livro[3] e a Sabedoria, com que Ele vos exorta. E temei a Allah e sabei que Allah, de todas as cousas, é Onisciente.
[1] Ou seja: O fim do prazo de espera, imposto à mulher, para poder casar-se novamente, e que varia conforme seu estado. Exemplo: para a mulher divorciada, o prazo é de três mênstruos ou três meses, conforme o caso; para a mulher viúva, é de quatro meses e dez dias; para a mulher grávida, até o nascimento da criança; [2] É, expressamente, vedado ao homem utílízar-se da revogação do divórcio, com ofito de prejudicar sua mulher, isto é, obrigando-a a resgatar-se, ou prolongar-lhe o prazo de espera, a fim de ela permanecer só e certamente, padecer com isto; [3] O Livro: o Alcorão;
E quando vos divorciardes das mulheres e elas atingirem seu prazo de espera, não as impeçais de esposarem seus maridos anteriores, quando concordarem entre eles, convenientemente. Com isso, é exortado aquele de vós que crê em Allah e no Derradeiro Dia. Isso vos é mais digno e mais puro. E Allah sabe, e vós não sabeis.
E as mães amamentam seus filhos por dois anos inteiros. Isso, para quem deseja completar a lactação. E impende ao pai o sustento e o vestir delas, convenientemente. A nenhuma alma é imposto senão o que é de sua capacidade. Que nenhuma mãe seja prejudicada por causa de seu filho nem o pai, por causa de seu filho. E impende ao herdeiro fazer o mesmo.[1] E se ambos desejam desmama, de comum acordo e mútua consulta, não haverá culpa sobre ambos. E se desejais amamentar vossos filhos com amas, não haverá culpa sobre vós, quando entregardes, convenientemente, o que prometestes conceder-Ihes[2]. E temei a Allah e sabei que Allah, do que fazeis, é Onividente.
[1] Sendo o pai inválido, ou já havendo falecido, será incumbência do herdeiro sustentá-la e vesti-la; [2] Lhes: às amas-de-leite.
E os que, dentre vós, morrerem e deixarem mulheres, essas aguardem quatro meses e dez dias.[1] Então, quando atingirem seu prazo de espera, não haverá culpa sobre vós, pelo que fizerem com si mesmas convenientemente.[2] E Allah, do que fazeis, é Conhecedor.
[1] Trata-se de prazo de espera da mulher viuva, mencionado na sura II 231 n6; [2] Os homens, sob cujos cuidados se encontram as viúvas, não estarão em pecado, se elas recor rerem a meios de embelezamento, para atrair novo casamento.
E não há culpa sobre vós em insinuardes às mulheres propostas de casamento, ou em ocultardes essa intenção em vossas almas. Allah sabe que vos estareis lembrando delas; mas não vos comprometais, secretamente com elas, exceto se lhes disserdes dito conveniente. E não decidais consumar os laços matrimoniais até que a prescrição atinja seu termo. E sabei que Allah sabe o que há em vossas almas: então, precatai-vos dEle. E sabei que Allah é Perdoador, Clemente.
Não há culpa sobre vós se vos divorciais das mulheres, desde que não as hajais tocado ou não hajais proposto faridah(mahr).[1] E mimoseai-as - o próspero, conforme suas posses e o carecente, conforme suas posses - com mimo conveniente. É dever que impende aos benfeitores.
[1] Al faridah, corresponde a al mahr ou as saduqah: soma de bens que o noivo dá à esposa, antes de contrair núpcias, as arras.
E se vos divorciais delas antes de havê-las tocado, e após haver-lhes proposto faridah, caber-Ihes-á a metade do que houverdes proposto exceto se abrem mão disso, ou o faz aquele em cujas mãos estão os laços matrimoniais. E abrirdes mão disso é mais próximo da piedade. E não vos esqueçais do favor entre vós. Por certo, Allah, do que fazeis, é Onividente.
Mas se temeis um inimigo, orai andando ou montados. E quando estiverdes em segurança, invocai a Allah e cumpri a oração, como Ele vos ensinou o que não sabíeis.
E os que, entre vós, morrerem e deixarem mulheres, devem deixar testamento a suas mulheres, legando-lhes provisão por um ano, sem fazê-las sair de suas casas. E se elas saírem, não haverá culpa sobre vós pelo que elas fizerem de conveniente com si mesmas.[1] E Allah é Todo-Poderoso, Sábio.
[1] Essa recomendação testamentária de legar bens à viúva, por um ano, foi ab-rogada pelos versículos que lhe destinam parte determinada da herança (IV 12). Como ab-rogado, também foi seu prazo de espera, que antes era de um ano e passou para quatro meses e dez dias. Vide II 234;
Não viste, Muhammad, os que saíram de seus lares aos milhares para se precatarem da morte[1]? Então, Allah lhes disse: "Morreis"! Em seguida, Ele deu-lhes a vida. Por certo, Allah é Obsequioso para com os homens. Mas a maioria dos homens não agradece.
[1] Os: os membros de uma comunidade judaica, residentes em uma cidade, nas cercanias do Iraque, na qual grassou uma peste. Atemorizados, evadiram-se da cidade, para evitar a morte. Deus, então, fê-los morrer, em punição pela descrença de que a morte é predestinada por Deus, da qual ninguém escapa.
Não viste os dignitários dos Filhos de Israel, depois de Moisés? Quando disseram a um de seus profetas: "Envia-nos um rei, nós combateremos no caminho de Allah", o profeta disse: "Quiçá, não combatêsseis, se vos fosse prescrito o combate?" Disseram: "E por que razão não combateríamos no caminho de Allah, enquanto, com efeito, nos fizeram sair de nossos lares e nos separaram de nossos filhos?" Então, quando lhes foi prescrito o combate, eles, exceto alguns poucos, voltaram as costas. E Allah, dos injustos, é Onisciente.
E seu profeta lhes disse: "Por certo, Allah, com efeito, enviou-vos Talut[1] por rei." Disseram: "Como ele pode ter a soberania sobre nós, enquanto temos prioridade sobre ele, na soberania, e a ele não foi concedida abundância de riquezas?" O profeta disse: "Por certo, Allah escolheu-o sobre vós, e acrescentou-lhe grandeza em ciência e em força física." E Allah concede Sua soberania a quem quer. E Allah é Munificente, Onisciente.
E seu profeta lhes disse: "Por certo, o sinal de sua soberania é que vos chegará a Arca,[1] nela há Serenidade de vosso Senhor e relíquias, das que deixou a família de Moisés e a família de Aarão, os anjos a carregarão.[2] Por certo, há nisso um sinal para vós, se sois crentes."
[1] A arca da Aliança, mencionada na Bíblia. Vide Êxodo, XXV 10 - 22, Deuteronômio, X 1-5; [2] Colocada à frente de seus exércitos, esta arca infundia-lhes serenidade e tranqüilidade de vitória sobre o inimigo.
E, quando Talut partiu com o exército, disse: "Por certo, Allah vos estará pondo à prova, com um rio. Então, quem dele beber não será mais dos meus, e quem não o provar será dos meus, exceto aquele que apanhar, com a mão, um pouco de água". Então, dele beberam, exceto poucos, dentre eles. E, quando Talut o atravessou, com os que criam com ele, os demais disseram: "Não temos força hoje para combater Golias e seu exército." Os que pensavam que deparariam com Allah, disseram: "Que de vezes, um pequeno grupo venceu um grande grupo, com a permissão de Allah! E Allah é com os perseverantes."
E, quando saíram ao encontro de Golias e seu exército, disseram: "Senhor nosso! Verte sobre nós paciência e torna firmes nossos passos e socorre-nos, contra o povo renegador da Fé."
Então, derrotaram-nos com a permissão de Allah. E Davi matou a Golias, e Allah concedeu-lhe a soberania e ensinou-lhe algo do que Ele quis. E, se Allah não detivesse os homens, uns por outros, a terra corromper-se-ia. Mas Allah é Obsequioso para com os mundos.
Desses Mensageiros, preferimos uns a outros. Dentre eles, há aquele a quem Allah falou[1]; e a algum deles Ele elevou em escalões e concedemos a Jesus, Filho de Maria, as evidências e amparamo-lo com o Espírito Sagrado. E se Allah quisesse, não se haveriam entrematado os que foram depois deles, após lhes haverem chegado as evidências. Mas discreparam. Então, dentre eles, houve quem cresse e dentre eles, houve quem renegasse a Fé. E, se Allah quisesse, não se haveriam entrematado. Mas Allah faz o que deseja.
[1] Moisés foi aquele a quem Deus falou; e Muhammad foi aquele a quem Deus elevou, acima de todos os profetas, com inúmeros privilégios, entre os quais, o recebimento do Alcorão.
Ó vós que credes! Despendei do que vos damos por sustento, antes que chegue um dia, em que não haverá venda nem amizade nem intercessão; e os renegadores da Fé, são eles os injustos.
Allah, não existe deus senão Ele, O Vivente, Aquele que subsiste por Si mesmo. Não O tomam nem sonolência nem sono. DEle é o que há nos céus e o que há na terra. Quem intercederá junto dEle senão com Sua permissão? Ele sabe seu passado e seu futuro,[1] e nada abarcam de Sua ciência senão aquilo que Ele quer. Seu Trono abrange os céus e a terra e não O afadiga custodiá-los. E Ele é O Altíssimo, O Magnífico.[2]
[1] Ou seja. Deus conhece o passado e o futuro além do presente, de todos os seres. [2] Este é um dos mais célebres versículos do Alcorão, infinitamente reproduzido nos arabescos que adornam mesquitas, monumentos, etc. Chamado, outrossim, de "o versículo do Trono", pela alusão, nele contida, ao Trono, símbolo da onipotência e magnificência de Deus.
Não há compulsão na religião! Com efeito, distingue-se a retidão da depravação. Então, quem renega os ídolos[1] e crê em Allah, com efeito, ater-se-á a firme alça irrompível. E Allah é Oniouvinte, Onisciente.
[1] At-Taghut: aqui, designa tanto Satanás quanto ao ídolo ou qualquer outra cousa maléfica.
Allah é O Protetor dos que crêem: fá-los sair das trevas para a luz. E quanto aos que renegam a Fé, seus protetores são os ídolos; fazem-nos sair da luz para as trevas. Esses são os companheiros do Fogo. Nele, serão eternos.
Não viste aquele[1] que, porque Allah lhe concedera a soberania, argumentou com Abraão, sobre seu Senhor? Quando Abraão disse: "Meu Senhor é Aquele Que dá a vida e dá a morte", o outro disse: "Eu, também, dou a vida e dou a morte." Abraão disse: "E, por certo, Allah faz vir o sol do Levante; faze-o, pois, vir do Poente." Então, ficou atônito quem renegou a Fé. E Allah não guia o povo injusto.
[1] Aquele: Nemrod, rei da Mesopotâmia. Esse diálogo ocorreu, quando Abraão quebrou os ídolos e, seguidamente, foi preso por ordem de Nemrod, que o tirou da prisão, para queimá-lo vivo. Antes, porém, perguntou a Abraão quem era Seu Senhor: "Aquele que dá a vida e dá a niorte". Vide XXl 51 -69.
Ou aquele que passou por uma aldeia, enquanto deitada abaixo sobre seus tetos[1]? Disse: "Como Allah dará a vida a esta, depois de morta?" Então, Allah fê-lo morrer por cem anos; em seguida, ressuscitou-o. Disse Ele: "Quanto tempo permaneceste morto?" Disse: "Permaneci um dia ou parte de um dia." Allah disse: "Não, mas permaneceste cem anos; então, olha para teu alimento e para tua bebida, nada se alterou. E olha para teu asno - e isso, para que façamos de ti um sinal para a humanidade - e olha para os ossos de teu asno, como os erguemos para recompô-los; em seguida, revestimo-los de carne." E quando isso se tornou evidente, para ele, disse: "Sei que Allah, sobre todas as cousas, é Onipotente."
[1] A expressão textual é: "caída sobre seus tetos", o que significa: "não só caíram seus tetos mas as paredes desabaram sobre eles, ficando a aldeia totalmente arrasada". Dizem alguns exegetas tratar-se, aqui, da Cidade de Jerusalém, destruída por Nabucodonosor .
E quando Abraão disse: "Senhor meu! Faze-me ver como dás a vida aos mortos." Allah disse: "E não crês ainda?" Abraão disse: "Sim, mas é para que meu coração se tranqüilize." Allah disse: "Então, toma quatro pássaros e aproxima-os de ti, e corta-os; em seguida, coloca parte deles sobre cada montanha; depois, convoca-os: eles chegarão depressa a ti. E sabe que Allah é Todo-Poderoso, Sábio."
O exemplo dos que despendem suas riquezas no caminho de Allah é como o de um grão que germina sete espigas; em cada espiga, há cem grãos. E Allah multiplica a recompensa a quem quer. E Allah é Munificente, Onisciente.
Os que despendem suas riquezas no caminho de Allah, em seguida, não fazem seguir o que despenderam nem de alarde nem de moléstia, terão seu prêmio junto de seu Senhor. E nada haverá que temer por eles e eles não se entristecerão.
Ó vós que credes! Não derrogueis vossas esmolas com o alarde e a moléstia, como quem despende sua riqueza por ostentação, para ser visto pelos homens, e não crê em Allah e no Derradeiro Dia. E seu exemplo é como o de uma rocha, sobre a qual há pó; então, uma chuva intensa a alcança e a deixa lisa. Tais homens não poderão beneficiar-se em nada, do que lograram. E Allah não guia o povo renegador da Fé.
E o exemplo dos que despendem suas riquezas em busca do agrado de Allah e com a firmeza de suas almas, é como o de um jardim em um outeiro: uma chuva intensa alcançou-o; então, deu em dobro seu fruto. E se chuva intensa não o alcançasse, haveria orvalho. E Allah, do que fazeis, é Onividente.
Acaso, algum de vós almejaria ter um jardim de tamareiras e videiras, abaixo do qual os rios correm, e no qual há toda a espécie de frutos, e que a velhice o alcançasse, enquanto tem indefesa descendência, então, uma tempestade, continente de fogo alcançasse seu jardim e o queimasse? Assim, Allah torna evidentes, para vós os sinais, para refletirdes.[1]
[1] Este versículo alerta que de nada vale a riqueza, sem o respaldo da caridade.
Ó vós que credes! Despendei das cousas boas que haveis logrado e do que Nós vos fizemos sair da terra. E não recorrais ao que é vil, para dele despenderdes, sendo que o não tomaríeis, a não ser que a ele fechásseis os olhos. E sabei que Allah é Bastante a Si mesmo, Louvável.
Ele concede a sabedoria a quem quer. E àquele a quem é concedida a sabedoria, com efeito, é-lhe concedido um bem abundante. E não meditam senão os dotados de discernimento.
Se mostrais as esmolas, quão excelente é! Mas se as escondeis e as concedeis aos pobres, é-vos melhor. E Ele vos remirá algo de vossas más obras. E Allah, do que fazeis, é Conhecedor.
Não te impende, Muhammad, guiá-los para o bom caminho, mas Allah guia a quem quer. E o que quer que despendais de bom é para vós mesmos. E não deveis despender senão para buscar a face de Allah.[1] E o que quer que despendais de bom vos será compensado e não sofrereis injustiça.
Dai vossas esmolas aos pobres que, impedidos pelo combate no caminho de Allah, não podem percorrer a terra para ganhar seu sustento.[1] O ignorante supõe-nos ricos, por suas maneiras recatadas. Tu os reconheces por seu semblante; não pedem esmolas aos outros, insistentemente. E o que quer que despendais de bom, por certo, Allah é, disso, Onisciente.
[1] Referência aos 400 moslimes, emigrados de Makkah, para Al Madinah, onde, desamparados, sem lar nem parentes, ficaram na mesquita local, numa parte assombreada, chamada as-suffah, e, por isso, foram eles denominados "homens de as-suffah". Por orientação do Profeta, dedicaram- se ao combate pela causa de Deus, para a defesa do islão.
Os que despendem suas riquezas, quer de noite quer de dia, secreta e manifestamente, terão seu prêmio junto de seu Senhor e nada haverá que temer por eles e eles não se entristecerão.
Os que devoram a usura não se levantam senão como se levanta aquele que Satã enfurece com a loucura. Isto porque dizem: "A venda é como a usura". Ao passo que Allah tornou lícita a venda e proibiu a usura. Então, aquele a quem chega exortação de seu Senhor e se abstém da usura, a ele pertencerá o que se consumou e sua questão será entregue a Allah.[1] E quem reincide, esses são os companheiros do Fogo. Nele, serão eternos.
[1] Isto é, tudo o que angariou, até a revelação deste versículo, pode ser mantido, sem necessidade de devolução ou abandono. Quanto a serem perdoados ou não, isto é decisão de Deus.
Por certo, os que crêem e fazem as boas obras e cumprem a oração e concedem as esmolas, terão seu prêmio junto de seu Senhor; e nada haverá que temer por eles, e eles não se entristecerão.[1]
E se o não fazerdes, certificai-vos de uma guerra de Allah e de Seu Mensageiro; e se vos voltardes para Allah arrependidos, tereis vosso capital. Não estareis cometendo injustiça nem sofrendo injustiça.
Ó vós que credes! Se contrairdes, uns com os outros, dívida por termo designado, escrevei-a. E que um escrivão vo-lo escreva, entre vós, com a justiça. E que nenhum escrivão se recuse a escrever conforme o que Allah lhe ensinou. Então, que ele escreva e que o devedor dite a dívida e que tema a Allah, seu Senhor, e que dela nada subtraia. E se o devedor for inepto ou indefeso[1] ou incapaz, ele mesmo de ditar, então, que seu tutor dite com a justiça. E tomai duas testemunhas dentre vossos homens. E se não houver dois homens, então um homem e duas mulheres dentre quem vós aceitais por testemunhas, pois, se uma delas se descaminha da lembrança de algo, a outra a fará lembrar. E que as testemunhas não se recusem, quando convocadas para testemunhar. E não vos enfadeis de escrevê-la,[2] pequena ou grande, até seu termo. Isso vos é mais eqüitativo diante de Allah, e mais reto para o testemunho, e mais adequado para que não duvideis; exceto se há mercadoria presente, negociada entre vós: então, não há culpa sobre vós em a não escreverdes. E tomai as testemunhas, se comerciais, e que se não prejudiquem nem escrivão nem testemunha. E se o fizerdes, haverá perversidade em vós. E temei a Allah, e Allah vos ensinará. E Allah, de todas as cousas, é Onisciente.
[1] Indefeso: em idade infantil ou senil; [2] La: a dívida.
E se estais em viagem e não encontrais escrivão, que haja um penhor entregue em mão. E se algum de vós confia a outrem um depósito, então, aquele a quem foi confiado este, restitua seu depósito, e que tema a Allah, seu Senhor. E não oculteis o testemunho. E quem o oculta, por certo, seu coração será pecador. E Allah, do que fazeis, é Onisciente.
De Allah é o que há nos céus e o que há na terra. E se mostrardes o que há em vossas almas ou o esconderdes, Allah vos pedirá conta disso. Então, Ele perdoa a quem quer e castiga a quem quer. E Allah, sobre todas as cousas, é Onipotente.
O Mensageiro crê no que foi descido para ele de seu Senhor, e, assim também os crentes. Todos crêem em Allah e em Seus anjos e em Seus Livros e em Seus Mensageiros. E dizem: "Não fazemos distinção entre nenhum de Seus Mensageiros." E dizem: "Ouvimos e obedecemos. Rogamos Teu perdão. Senhor nosso! E a Ti será o destino."
Allah não impõe a alma alguma senão o que é de sua capacidade. A ela, o que logrou de bom e, contra ela, o que cometeu de mau E dizem: "Senhor nosso! Não nos culpes, se esquecemos ou erramos. Senhor nosso! E não nos carregues de pesados fardos como deles carregaste aos que foram antes de nós. Senhor nosso! E não nos carregues daquilo para o que não temos força. E indulta-nos e perdoa-nos e tem misericórdia de nós. Tu és nosso Protetor; então, socorre-nos contra o povo renegador da Fé."
Contents of the translations can be downloaded and re-published, with the following terms and conditions:
1. No modification, addition, or deletion of the content.
2. Clearly referring to the publisher and the source (QuranEnc.com).
3. Mentioning the version number when re-publishing the translation.
4. Keeping the transcript information inside the document.
5. Notifying the source (QuranEnc.com) of any note on the translation.
6. Updating the translation according to the latest version issued from the source (QuranEnc.com).
7. Inappropriate advertisements must not be included when displaying translations of the meanings of the Noble Quran.
Resultado de pesquisa:
API specs
Endpoints:
Sura translation
GET / https://quranenc.com/api/v1/translation/sura/{translation_key}/{sura_number} description: get the specified translation (by its translation_key) for the speicified sura (by its number)
Parameters: translation_key: (the key of the currently selected translation) sura_number: [1-114] (Sura number in the mosshaf which should be between 1 and 114)
Returns:
json object containing array of objects, each object contains the "sura", "aya", "translation" and "footnotes".
GET / https://quranenc.com/api/v1/translation/aya/{translation_key}/{sura_number}/{aya_number} description: get the specified translation (by its translation_key) for the speicified aya (by its number sura_number and aya_number)
Parameters: translation_key: (the key of the currently selected translation) sura_number: [1-114] (Sura number in the mosshaf which should be between 1 and 114) aya_number: [1-...] (Aya number in the sura)
Returns:
json object containing the "sura", "aya", "translation" and "footnotes".